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Resenha Crítica de “A Colonização do Planalto do Amboim”, de Secundino Júnior

Tipo de projeto

Resenha Crítica

Data

2/2025

Local

Idaho, USA

Quando me deparei com A Colonização do Planalto do Amboim, de Secundino Júnior, senti-me imediatamente transportado para as paisagens e histórias que moldaram a Angola colonial, particularmente na região do Amboim. O autor se debruça sobre o desenvolvimento socioeconômico, político e cultural desta área, apresentando um retrato detalhado de como a presença portuguesa impactou as comunidades locais.

Contexto Histórico e Geográfico

O Planalto do Amboim localiza-se na província do Cuanza Sul, região que, na época colonial, destacou-se pela produção de café e outras culturas. Secundino Júnior inicia o livro descrevendo as características naturais da região — o relevo, o clima e a vegetação densa —, fundamentais para entendermos por que o Amboim se tornou um polo de atração de colonos portugueses e investidores. Ao delinear esse cenário, o autor permite que o leitor compreenda como as condições naturais do planalto influenciaram o modelo de ocupação e a formação de grandes fazendas.

A Chegada dos Colonos e a Estrutura de Poder

No decorrer da obra, percebe-se que Secundino Júnior não se restringe à descrição factual: ele contextualiza o período em que a colonização ganhou força, mostrando como as políticas do governo português incentivaram a vinda de colonos para o interior de Angola. São apresentados relatos de famílias portuguesas e suas experiências na implantação de fazendas de café e outras atividades agrícolas. O livro explora como a estrutura de poder local — que incluía autoridades coloniais, missionários e lideranças tradicionais — moldou as relações de trabalho e a organização das comunidades angolanas sob domínio português.

Dinâmica Social e Cultural

O autor se dedica a evidenciar o choque cultural entre colonos e povos locais, algo particularmente percetível na maneira como eram impostas as normas de convivência, trabalho e religião. Para quem, como eu, guarda lembranças de uma Angola pré-Independência, esses relatos são especialmente vívidos, pois resgatam um período de tensões crescentes, mas também de adaptações e trocas culturais. Há passagens que descrevem o modo como os trabalhadores angolanos eram contratados e remunerados, e como as missões católicas tinham papel central na educação e na disseminação de valores ocidentais. Essas questões, tratadas em detalhes, ajudam a entender por que as desigualdades estruturais continuaram a reverberar décadas depois.

Pesquisa e Estilo Narrativo

O livro é fruto de uma pesquisa que, à época, certamente exigiu acesso a documentos oficiais, entrevistas e relatos de campo. O autor, ao que parece, se valeu tanto de fontes primárias (arquivos governamentais, correspondências, atas administrativas) quanto de depoimentos orais. Essa mescla confere ao texto uma credibilidade histórica notável, ao mesmo tempo que humaniza a narrativa.

Secundino Júnior escreve de forma clara e objetiva, ainda que não se furte a incluir opiniões pessoais sobre a atuação do regime colonial. Tal posicionamento torna a obra valiosa, pois dá ao leitor uma noção dos debates intelectuais e morais que envolviam a colonização naquela época. Em alguns momentos, o autor adota um tom quase didático, pontuando fatos históricos para situar o leitor. Em outros, assume uma voz mais reflexiva, analisando criticamente as consequências de políticas coloniais e questionando certas práticas da administração portuguesa.

Importância Historiográfica e Atualidade

Para além de ser um registro do passado, A Colonização do Planalto do Amboim nos ajuda a entender a formação social e econômica de Angola. Muitos dos desafios enfrentados hoje — desde questões fundiárias até desigualdades regionais — têm raízes nesse período colonial. Assim, o livro se torna relevante não só para estudiosos de História ou Sociologia, mas para qualquer pessoa interessada em compreender o percurso que Angola trilhou até a Independência e como essa herança colonial impacta o presente.

Perspetiva Pessoal

Como alguém que vivenciou os últimos anos do regime colonial em Angola, ainda que numa outra região, e que partiu do país antes de sua Independência, ler este livro desperta reflexões profundas. Ele traz à tona memórias de um tempo marcado por tensões e transformações, ao mesmo tempo em que ilumina aspetos do cotidiano e da resistência silenciosa (e muitas vezes explícita) do povo angolano. É como revisitar um período-chave, agora com a lente do distanciamento histórico, e perceber como cada narrativa — seja a dos colonos ou a dos locais — compõe o mosaico complexo do passado angolano.

Conclusão

Secundino Júnior apresenta uma obra fundamental para compreender a formação do Planalto do Amboim e, por extensão, os mecanismos da colonização portuguesa em Angola. A riqueza de detalhes, a análise crítica e o cuidado na apresentação das fontes tornam A Colonização do Planalto do Amboim uma leitura indispensável para quem deseja mergulhar na história colonial angolana. Para mim, foi não apenas um exercício de conhecimento, mas também um reencontro com raízes e lembranças que ajudam a compor minha própria história e a de muitos outros angolanos que, como eu, mantêm viva a memória de um país em constante transformação.

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