Amigos de Infância

Hoje, ao olhar para o horizonte distante, sinto-me transportado de volta para as ruas poeirentas e ensolaradas de Santa Comba. Parece que foi ontem que corríamos descalços, sentindo o calor do asfalto queimar as solas dos nossos pés, e o cheiro inconfundível da catinga invadir nossas narinas. A vida era simples, mas cheia de aventuras.

Cada dia trazia uma nova descoberta, e nós, com nossos corações jovens e cheios de sonhos, acreditávamos que o mundo começava e terminava ali.

Lembro-me das manhãs em que acordávamos cedo para a escola, o sol mal nascido ainda, e o ar fresco da manhã que nos acordava de verdade. O caminho para a escola era uma festa à parte. Brincávamos de saltar sobre as pedras, apostávamos corridas para ver quem chegava primeiro, e às vezes, parávamos para comprar um doce na vendinha da esquina, sempre atendidos pela Dona Maria, que conhecia todos os nossos nomes e sorria para nós como uma avó.

A escola, claro, não era apenas um lugar de aprendizagem, mas de convivência. Era onde trocávamos histórias, onde surgiam as primeiras amizades e, sim, até as primeiras paixões. Quem não se lembra das festas de final de ano, com aquelas danças ensaiadas e as apresentações que tanto nos orgulhavam? Eu ainda guardo na memória a emoção de vestir o meu melhor traje e subir ao palco, com o coração batendo forte, sob o olhar atento dos nossos pais.

As tardes eram preenchidas com brincadeiras intermináveis. Jogávamos bola no campinho atrás do clube, escalávamos árvores em busca de mangas maduras, ou simplesmente sentávamos à beira do rio, jogando pedrinhas na água e imaginando como seria o futuro. Havia uma magia em cada detalhe daqueles dias. Até mesmo o som do sino da igreja, que marcava as horas, parecia ritmar a nossa infância.

Não posso deixar de mencionar as festas da cidade, ocasiões que nos enchiam de alegria. As procissões, as barracas de comida, as músicas que ecoavam pela noite… Tudo isso fazia parte de quem éramos. Éramos uma comunidade unida, onde todos se conheciam e se cuidavam. Éramos felizes, mesmo sem saber.
Hoje, ao relembrar tudo isso, sinto uma saudade que me aperta o peito. Santa Comba foi o nosso primeiro lar, o cenário das nossas primeiras aventuras e descobertas. Foi onde aprendemos o valor da amizade, da lealdade e do amor pelo próximo.

A vida nos levou por caminhos diferentes, mas as memórias de nossa infância permanecem vivas em mim. Quando fecho os olhos, ainda posso ouvir as nossas risadas ecoando pelas ruas, ainda posso sentir o calor do sol em meu rosto, e ainda posso ver o brilho nos olhos de cada um de vocês.

Que essas lembranças nos acompanhem sempre, como um tesouro precioso que guardamos em nossos corações. E que, onde quer que estejamos, possamos sempre lembrar da nossa querida Santa Comba com carinho e gratidão.

Com muita saudade e afeto,
João Elmiro da Rocha Chaves