top of page

A Guerra Fria em África: Movimentos Geopolíticos e a Continuidade do Neocolonialismo

11 de set de 2024

3 min de leitura

2

5

0

A Guerra Fria, um dos períodos mais tensos e decisivos do século XX, teve um impacto profundo em todo o mundo, e África não foi exceção. Embora frequentemente retratada como uma luta ideológica entre capitalismo e comunismo, a verdade é que, no continente africano, essa disputa foi, acima de tudo, uma batalha pelo controlo de recursos valiosos e pela influência política. As superpotências—Estados Unidos, União Soviética e China—moviam-se estrategicamente como peças num tabuleiro de xadrez, visando não apenas o domínio imediato, mas a construção de uma nova forma de colonialismo: o neocolonialismo, cujos efeitos persistem até aos dias de hoje.


O Contexto Africano na Guerra Fria

Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, o movimento de descolonização africano ganhou força, com várias nações conquistando formalmente a sua independência das potências coloniais europeias. No entanto, esta nova independência foi, em muitos casos, meramente simbólica. O verdadeiro poder foi transferido das antigas metrópoles europeias para as mãos das novas superpotências globais.


Os Estados Unidos, temendo a expansão do comunismo no continente, intervieram ativamente nos processos de descolonização, apoiando regimes e líderes que garantissem a permanência de uma ordem pró-ocidental. A União Soviética, por sua vez, viu na descolonização uma oportunidade para expandir sua influência, apoiando movimentos de libertação que se identificavam com o socialismo. Já a China, sob a liderança de Mao Zedong, começou a estender sua influência em África, promovendo uma terceira via que, embora comunista, procurava ser independente tanto do modelo soviético quanto do modelo americano.


A Luta pelos Recursos

Angola, Moçambique, Congo, Nigéria, e outros países ricos em recursos naturais tornaram-se pontos focais na estratégia das superpotências. A disputa pelo controlo desses recursos—petróleo, diamantes, minerais estratégicos—transformou o continente num campo de batalha indireto, onde as superpotências financiam, armam e apoiam facções locais, perpetuando conflitos devastadores.


Em Angola, por exemplo, a Guerra Fria manifestou-se de forma dramática. Após a independência de Portugal em 1975, o país mergulhou numa guerra civil que durou décadas. Os EUA apoiaram a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), liderada por Jonas Savimbi, enquanto a União Soviética e Cuba forneceram apoio militar ao MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). China, em momentos diferentes, apoiou tanto a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) quanto a UNITA, conforme seus interesses estratégicos mudavam. A guerra em Angola não foi apenas uma luta entre angolanos, mas uma guerra por procuração que deixou milhões de mortos e um país devastado.


Neocolonialismo: A Nova Ordem Mundial

Embora as bandeiras coloniais europeias tenham sido retiradas, o neocolonialismo emergiu como a nova realidade. As potências da Guerra Fria substituíram as antigas colónias por estados-clientes, cujos governos eram frequentemente controlados por elites locais que agiam em consonância com os interesses das superpotências. A verdadeira independência—econômica, política e social—foi, em grande medida, negada aos povos africanos.


As multinacionais, muitas delas baseadas nos EUA e na Europa, continuaram a explorar os recursos africanos, muitas vezes com a cumplicidade de governos corruptos. Em troca, essas elites recebiam apoio militar, econômico e político, assegurando a manutenção de regimes que, embora oficialmente independentes, eram na prática dependentes e subservientes a interesses estrangeiros.


A Continuidade do Neocolonialismo

Os efeitos do neocolonialismo estabelecido durante a Guerra Fria ainda são visíveis hoje. Muitos países africanos continuam a enfrentar desafios econômicos graves, apesar de sua riqueza em recursos naturais. A pobreza, a corrupção e os conflitos internos são em grande parte legados desse período, onde as decisões sobre o futuro dos países africanos eram tomadas em Washington, Moscovo, Pequim, e não em Luanda, Maputo, ou Kinshasa.


Além disso, a presença contínua de potências estrangeiras em África—seja através de acordos econômicos, bases militares, ou parcerias estratégicas—demonstra que o continente ainda é visto como um campo de disputa geopolítica. Novos atores, como a China moderna, entraram no cenário, mas a lógica permanece a mesma: o controlo de recursos e a influência política continuam a ser os principais motores das relações internacionais em África.


Conclusão

A Guerra Fria, muitas vezes retratada como uma luta pela liberdade e autodeterminação, foi, em grande parte, uma continuação do colonialismo por outros meios. A luta pela independência africana foi sequestrada pelas superpotências, que impuseram uma nova ordem neocolonial. A verdadeira independência para os povos africanos ainda é um objetivo por alcançar, e a luta contra o neocolonialismo é uma batalha que continua até hoje.


ree

11 de set de 2024

3 min de leitura

2

5

0

Posts Relacionados

Comentários

Compartilhe sua opiniãoSeja o primeiro a escrever um comentário.
bottom of page