Explorando a Rica Cultura de Angola e Portugal

A Xitaka: Um Sonho Realizado
2
37
0
No sopé das majestosas montanhas cobertas de neve, encontrei um recanto de serenidade e beleza, onde a natureza exibe seu esplendor em cada detalhe. Ali, entre as colinas verdejantes e os campos floridos, ergue-se a minha casa dos sonhos, um lar acolhedor feito de madeira rústica que se funde harmoniosamente com a paisagem.
Este lugar, que chamo de Xitaka, é mais do que uma simples propriedade; é o refúgio ideal para o meu espírito e a minha alma. Ao acordar, todas as manhãs, o sol nasce devagar, pintando o céu com tons de laranja e rosa, banhando a terra com sua luz suave e dourada. O som dos pássaros cantando e o sussurro do vento entre as árvores criam uma sinfonia natural que desperta os meus sentidos e acalma meu coração. Posso sentir a brisa fresca na pele, trazendo o aroma doce das flores silvestres que florescem nas colinas ao meu redor.
A trilha que leva à porta da frente é ladeada por flores silvestres amarelas, como pequenos sorrisos da natureza. O velho portão de madeira, coberto de musgo, dá as boas-vindas a todos que chegam, convidando-os a entrar e desfrutar da paz que o lugar oferece. Ao cruzar esse limiar, deixo para trás as preocupações do mundo exterior, mergulhando em um espaço onde cada canto conta uma história.
Dentro da casa, a simplicidade e o conforto reinam. A madeira rústica das paredes, trabalhada com amor, e o calor do fogo na lareira criam um ambiente acolhedor e familiar. As grandes janelas permitem que a luz natural inunde os espaços, conectando o interior com a beleza exterior. Em uma dessas janelas, eu coloco uma pequena mesa, onde gosto de me sentar e observar a dança das folhas nas árvores, enquanto o sol se esconde atrás das montanhas ao entardecer.
A vida na Xitaka é marcada por um ritmo tranquilo e harmonioso. Acordar com o nascer do sol e contemplar o esplendor das montanhas ao longe é uma rotina que renova minha alma a cada dia. O cultivo do jardim, onde planto ervas aromáticas e flores coloridas, e o cuidado com os animais são atividades que fortalecem minha conexão com a terra e a natureza. A cada colher de terra, sinto-me mais próximo da essência do mundo ao meu redor. As tardes são passadas em caminhadas pelos campos, onde a grama alta se balança suavemente sob o vento, como um mar verde à minha volta.
Além da beleza natural que me cerca, há muitas realizações das quais me orgulho. Um dos maiores marcos da minha vida foi a construção da minha primeira casa em San Jose, Califórnia. Com as minhas próprias mãos e a ajuda da minha família, ergui esse lar sem gastar um centavo em mão de obra. Trabalhei e estudei em tempo integral enquanto sustentava minha família, e esse esforço valeu a pena. O desafio de equilibrar as responsabilidades de trabalho e estudos me ensinou a resiliência e a determinação, valores que me acompanharam em minha trajetória profissional.
O verdadeiro tesouro da Xitaka está, no entanto, nos momentos compartilhados. À medida que o Natal se aproxima, a casa se enche de alegria e expectativa. Na véspera de Natal, a tradição se enriquece com a troca de presentes, onde cada laço é desfeito com risos e abraços. As crianças correm pela casa, seus rostos iluminados pela magia do Natal, enquanto preparamos o famoso bacalhau à brás, um prato que simboliza nossa herança portuguesa. Esta receita, que temos em alta consideração, é um dos pratos que preparamos com amor e alegria, sempre cercados de família e amigos.
As celebrações são ainda mais especiais por causa da herança da minha esposa, que é de Faial, nos Açores. A influência das tradições açorianas se faz sentir em cada reunião familiar, especialmente nas festas do Espírito Santo, onde a devoção e a alegria se entrelaçam. Celebramos com a mesma fervor que suas famílias fizeram ao longo dos anos, oferecendo sopas, pães e o famoso prato de carne. Cada festa é um lembrete de nossas raízes e do amor que nos une.
Refletindo sobre a luta para chegar aos Estados Unidos, recordo-me de momentos difíceis que moldaram nosso caminho. Quando deixei Angola em 1975, durante a turbulência da independência, deixei para trás minha infância e um lar conhecido. A transição não foi fácil. A evacuação para Portugal e, posteriormente, a jornada para os Estados Unidos foram repletas de incertezas. Contudo, cada desafio que enfrentamos ao longo desse caminho fortaleceu meu compromisso em construir uma vida melhor. Ao olhar para trás, vejo que cada lágrima e cada luta foram sementes plantadas para florescer na Xitaka.
Nos dias mais frios, me vejo sentado à lareira, cercado pelos meus entes queridos, compartilhando histórias do passado e sonhos para o futuro. Em cada risada, em cada olhar, vejo refletido o amor que permeia a Xitaka. Acredito firmemente que este lugar não é apenas uma propriedade, mas um lar que acolhe e nutre nossas almas, um espaço sagrado onde a natureza e a humanidade coexistem em perfeita harmonia.
Assim, a Xitaka se torna uma metáfora para minha própria jornada: um lugar onde a paz é cultivada e as relações são valorizadas, onde o presente é celebrado e o futuro é sonhado. Um lar, um santuário, um sonho realizado que continua a florescer em meu coração. Juntos, minha esposa e eu cultivamos não apenas o nosso jardim, mas também a rica tapeçaria da cultura portuguesa que nos une, tornando cada dia na Xitaka uma celebração da vida e das tradições que amamos.
