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Deserto de Namíbia

20 de out de 2024

5 min de leitura

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Numa tarde resplandecente, onde os raios dourados do sol se fundiam com as areias infinitas do deserto da Namíbia, o mais antigo do mundo, começava a desenrolar-se uma história tão antiga quanto as terras que a testemunhavam. O cenário era dominado pela majestosa presença de árvores de mil anos, cujas raízes profundas abraçavam a terra com a sabedoria dos tempos. Entre elas, destacavam-se as acácias, com suas copas amplas oferecendo sombra e refúgio, e as enigmáticas welwitschias mirabilis, plantas raras que parecem sobreviver fora do tempo, vivendo até mesmo milênios, em solo quase inóspito.


Ao aproximar-se do crepúsculo, um grupo diversificado de animais começava a reunir-se ao redor de um poço de água, um oásis de vida que desafiava a aridez do entorno. Elefantes, com suas imponentes presenças, moviam-se serenamente, suas trombas habilmente sugando a água. Rinocerontes juntavam-se à cena, imponentes, com suas peles grossas refletindo a luz do entardecer. Zebras e girafas, com suas estampas únicas, adicionavam padrões contrastantes ao quadro natural, enquanto leões descansavam à distância, observando tranquilamente.


O céu, um espetáculo à parte, tingia-se de laranja, rosa e roxo, cores que se espalhavam pelo vasto horizonte. Os sons da natureza preenchiam o ar: o chamado distante de um pássaro, o sussurro do vento nas folhas secas, e o murmúrio constante da água.


Neste cenário, uma velha girafa, conhecida como Muhu, a guardiã do poço, se aproximava cautelosamente. Muhu era venerada entre os animais; dizia-se que ela havia caminhado mais desertos do que qualquer outra girafa. Sob seu olhar atento, nenhum predador ousava perturbar a paz do oásis. Ela ensinava aos mais jovens como encontrar os caminhos secretos para as águas escondidas e como escutar os sussurros do deserto.


Conforme a noite se aproximava, a temperatura caía, e a reunião ao redor do poço se intensificava. Cada animal, à sua maneira, participava desse ritual antigo, um momento de trégua e gratidão pelas dádivas da natureza. Era uma noite típica no deserto da Namíbia, repleta de estrelas que pareciam contar suas próprias histórias antigas.

Assim, sob a luz da lua crescente, a vida no deserto seguia, imperturbável e eterna, ecoando através das eras, um lembrete da resiliência e beleza que só os verdadeiros filhos do deserto conhecem.


À medida que a lua subia no céu, cada estrela parecia assumir seu lugar com uma finalidade, iluminando os contornos das dunas e das criaturas abaixo. Muhu, a velha girafa, permanecia um farol de sabedoria e tranquilidade, sua figura alongada projetando uma sombra longa e fina sobre a areia fria.


Nessa noite, um jovem elefante, Kamba, encontrava-se especialmente inquieto. Trazido pela curiosidade que alimenta a juventude, Kamba se afastara ligeiramente do grupo, atraído pelo brilho misterioso de uma welwitschia mirabilis. Esta planta, com suas duas folhas longas e contínuas que nunca param de crescer, fascinava-o. Era um lembrete de que, mesmo nas condições mais adversas, a vida não apenas persiste, mas também pode florescer.


Inspirado, Kamba decidiu que essa noite seria o momento de sua pequena aventura. Com cautela, ele seguiu o padrão das estrelas, guiado pelos ensinamentos de Muhu sobre como as constelações do sul apontavam para águas frescas. Seus passos eram suaves na areia, um testemunho de sua crescente habilidade em se mover silenciosamente, uma arte vital no coração do deserto.


Enquanto isso, no poço de água, a harmonia continuava. Os rinocerontes, normalmente solitários, pareciam apreciar a companhia silenciosa dos outros animais. Leões, agora saciados e menos ameaçadores, jaziam ao lado de suas presas, em uma trégua ditada pela necessidade comum de água. A vida selvagem compartilhava um entendimento tácito de que, neste lugar e momento, a água era mais preciosa do que qualquer disputa territorial.


De repente, um leve tremor no ar chamou a atenção de Muhu. Seu olhar aguçado captou uma mudança na brisa — uma dica sutil de algo diferente, algo novo. Era o cheiro de chuva, raro e precioso, carregado pelo vento do oeste. Um murmúrio de excitação percorreu a assembleia de animais. Chuva significava renovação, um breve alívio das demandas implacáveis do deserto.


Os animais, sentindo a iminência da chuva, começaram a vocalizar, cada um à sua maneira. O som era uma mistura de chamados cautelosos e expressões de alegria, um coro que celebrava a promessa do céu. Muhu sabia que a chuva traria novas plantas, brotos frescos para comer, e a possibilidade de a welwitschia absorver a umidade vital para sustentar sua existência milenar.


Enquanto os primeiros pingos de chuva começavam a cair, Kamba retornava apressadamente ao poço, ansioso para compartilhar suas descobertas e vivenciar junto aos outros o milagre refrescante da chuva. Juntos, todos os animais levantavam suas cabeças para o céu, acolhendo as bênçãos da natureza, cada gota de água um sinal de esperança e continuidade na eterna dança da vida no deserto da Namíbia.


A chuva caía suavemente, mas com suficiente força para formar pequenas poças no solo arenoso, refletindo a luz prateada da lua. Kamba, ao retornar ao grupo, sentia-se rejuvenescido, não apenas pela aventura, mas também pela sensação de pertencer a algo maior que ele mesmo, uma comunidade unida pelo instinto de sobrevivência e pelas leis antigas da natureza.


Muhu observava com orgulho. A chuva era um sinal auspicioso, um raro presente dos céus que reabastecia a vida selvagem e renovava o espírito dos animais. Ela conhecia bem os ciclos da natureza, e cada gota de chuva trazia uma mensagem de continuidade e renovação. As acácias rapidamente absorviam a umidade, suas folhas brilhando sob a luz da lua, enquanto a welwitschia, sempre resiliente, parecia respirar mais fundo, suas folhas longas e rasgadas coletando cada precioso recurso.


A noite avançava e a chuva diminuía, deixando no ar um cheiro fresco de terra molhada. Os sons da noite voltavam a se fazer presentes, com grilos e outros pequenos habitantes do deserto entoando suas canções noturnas. Os animais, satisfeitos e hidratados, começavam a se dispersar, retornando aos seus abrigos e atividades com a energia renovada pela água inesperada.


Kamba, agora mais calmo e centrado, encontrava-se ao lado de Muhu. A velha girafa, com sua paciência e sabedoria, compartilhava com ele as histórias do deserto, falando dos antigos que haviam trilhado essas terras e das lições que o deserto ensinava a todos que nele viviam. Ela falava sobre a importância de cada planta, cada animal, e como cada um contribuía para o equilíbrio do ecossistema.


“Aprende, Kamba,” dizia ela, “que cada criatura, cada planta, até mesmo cada grão de areia tem seu papel no grande tecido da vida. Nós, os grandes e os pequenos, os fortes e os frágeis, todos dependemos uns dos outros. E em noites como esta, quando a chuva nos visita, somos lembrados de nossa conexão com tudo o que vive e respira.”

Inspirado pelas palavras de Muhu, Kamba prometeu a si mesmo que guardaria essas lições profundamente em seu coração. Ele sabia que um dia, talvez, ele também seria um guardião das histórias e segredos do deserto, passando adiante o conhecimento e a sabedoria para as próximas gerações.


Assim, sob o manto estrelado e a luz suave da alvorada que começava a despontar no horizonte, o deserto da Namíbia se preparava para mais um dia. O ciclo da vida continuava, imperturbável e eterno, tecido pelas narrativas de todos aqueles que nele habitavam, uma tapeçaria viva de interdependência e resiliência.


FIM














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