Ecos da Herança: A Minha Xitaka em Idaho

No coração da tranquila zona rural de Idaho encontra-se o meu refúgio pacífico, que carinhosamente chamo de “Xitaka”. Este paraíso tranquilo, que lembra as paisagens da minha infância em Angola, captura a simplicidade e a beleza da vida rural, um lugar onde os ecos do meu passado se misturam harmoniosamente com o presente sereno.

Aninhado entre pastagens verdejantes, árvores altas lançam sombras suaves sobre o sinuoso caminho de terra que leva ao ponto central da minha propriedade: um encantador celeiro em estilo americano. Este celeiro, com sua estrutura robusta de madeira e charme rústico, simboliza a minha jornada desde a vida agitada de um sobrevivente da Guerra Fria até a calmaria do interior de Idaho.

Todas as manhãs, a cena na Xitaka ganha vida com o suave cacarejar das galinhas e o gentil grasnar dos patos. Como engenheiro eletrônico experiente e respeitado membro sênior da equipe técnica da Micron Technology, encontro consolo nestas rotinas simples. O celeiro, mais do que uma estrutura de madeira e pregos, guarda em suas paredes a essência da minha trajetória de vida.

Frequentemente caminho pelo caminho de terra com uma cesta na mão, lembrando a imagem serena que uma vez me inspirou. O ar está impregnado com o cheiro de feno fresco e flores silvestres em flor, um contraste marcante com os dias caóticos da minha juventude em Angola. As árvores altas, testemunhas de muitas estações, permanecem como guardiãs silenciosas, suas folhas sussurrando histórias de resiliência e esperança.

A minha Xitaka não é apenas um local de refúgio, mas também um reflexo do meu trabalho e valores de vida. Aqui, reúno as habilidades analíticas e o espírito inovador que definiram minha carreira, utilizando-os para criar um ambiente autossustentável. Painéis solares revestem o telhado do celeiro, um aceno à minha especialização em eletrônica, enquanto os jardins exuberantes são um testemunho da minha mentalidade estrutural e amor por projetar sistemas eficientes.

Enquanto caminho pela minha propriedade, frequentemente reflito sobre a minha jornada. Desde as vibrantes festas do Espírito Santo da minha juventude em Angola até a dinâmica cultura corporativa da ROLM, cada experiência moldou o meu caminho. A minha conexão com a herança é evidente nos pequenos toques ao redor da Xitaka – os azulejos adornando as paredes, os pratos tradicionais portugueses servidos nas reuniões familiares e as histórias de Viriato e Magriço que partilho com os meus netos.

Às noites, enquanto o sol se põe atrás das colinas, lançando um brilho dourado sobre a paisagem, sento-me na varanda da minha casa pitoresca, o coração cheio de contentamento. A Xitaka, com sua beleza serena e profunda conexão com o meu passado, é um lugar onde memórias são acarinhadas e novas são feitas. É aqui que encontro o equilíbrio perfeito entre a minha rica herança e a simplicidade pacífica da vida rural.

Este retiro idílico em Idaho é mais do que apenas uma casa; é um testemunho vivo da minha resiliência, paixão e conexão inabalável com as minhas raízes. A Xitaka, com sua atmosfera pacífica e memórias sentidas, erge-se como um farol de esperança e um lembrete do poder duradouro do amor, da família e da herança.

Soneto:

Nos campos verdes de Idaho, distante,

Encontro a paz que em Angola floresceu,

Na Xitaka, refúgio que nasceu,

Das memórias da terra, tão constante.

Celeiro americano, imponente,

Testemunha da minha longa jornada,

Da guerra fria à calma sossegada,

Ecoa o passado em voz retumbante.

O cantar das galinhas pela aurora,

Mistura-se ao vento e ao murmúrio,

Do riacho que corre sem demora.

E ao fim do dia, no pôr-do-sol dourado,

Contemplo a vida, cada sacrifício,

Na Xitaka, meu lar abençoado.

FIM