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Todos Sabiam que Ia Dar Merda, Mas Íamos Mesmo Assim

12 de out de 2024

3 min de leitura

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Ah, como era boa a infância em Santa Comba, Cela (hoje Waku Kungo, Cela)! Crescer naquela terra era como viver num mundo de possibilidades infinitas. Para nós, qualquer coisa abandonada virava um motivo para aventuras épicas. E foi numa tarde ensolarada, enquanto explorávamos os cantos escondidos da vila, que encontramos o que parecia ser a peça-chave para a nossa próxima travessura: um velho carrinho de madeira, jogado ao lado de um galpão, esquecido pelo tempo.


Eu estava com os meus inseparáveis amigos – Beto, Rui, Carlos e Zé. Uma turma diversa em tons de pele e personalidade, mas unidos por uma amizade que nem o tempo, nem as inevitáveis quedas (e eram muitas!) conseguiriam desfazer. E naquele momento, nossos olhos brilharam com a ideia: transformar aquele carrinho desgastado em uma verdadeira máquina de corrida!


Foi aí que eu, sem perder a oportunidade de dar uma de líder, soltei a frase que já havia se tornado o nosso lema em situações assim:

“Todos sabiam que ia dar merda, mas íamos mesmo assim.”

A verdade é que sabíamos que aquilo dificilmente daria certo – mas desde quando o sucesso era o nosso objetivo? O que importava mesmo era a emoção, a adrenalina, e claro, as risadas que sempre vinham com o inevitável desastre.


O Plano de Gênios

Sem perder tempo, começamos a trabalhar no carrinho. Beto e Rui, que sempre tinham alguma habilidade para mexer com ferramentas, se encarregaram de apertar os parafusos soltos e fortalecer a estrutura. Carlos e Zé foram em busca de peças de reposição, catando tudo que pudesse ser útil: pedaços de metal, madeira, qualquer coisa que desse a impressão de que estávamos construindo algo sólido (mas, entre nós, sabíamos que estava mais para um monte de sucata com rodas).


Pouco tempo depois, lá estava o nosso “super carrinho de corrida” pronto. Bom, pelo menos parecia pronto. O próximo passo? Encontrar a maior ladeira possível e testar a engenhoca.


A Grande Descida

Chegamos ao topo de uma colina – aquela que sabíamos que seria a pista perfeita (ou, mais provavelmente, o cenário de um desastre iminente). E como era de se esperar, eu, o mais “experiente” da turma, tomei a frente e assumi o volante do carrinho. Beto e Rui seguraram firme nas laterais, enquanto Carlos e Zé nos empurraram com toda a força colina abaixo.


O carrinho começou a ganhar velocidade rapidamente. O vento batia no rosto, o mundo ao redor virava um borrão de cores, e o barulho das rodas nos deixava nervosos e empolgados ao mesmo tempo. Era como se estivéssemos numa verdadeira corrida de Fórmula 1 – pelo menos, em nossas cabeças.


A cada solavanco, o carrinho parecia que ia desmoronar, mas nós seguíamos rindo e gritando, sentindo a adrenalina nos tomar de assalto. Cada segundo naquela descida parecia uma eternidade, e ao mesmo tempo, tudo acontecia rápido demais para reagirmos.


O Inevitável Desastre

E então, aconteceu. Como sempre acontece nessas histórias, acertamos em cheio um buraco que ninguém havia notado. O carrinho voou, e por um breve momento, sentimos como se estivéssemos flutuando – uma verdadeira sensação de liberdade... até que a gravidade resolveu nos lembrar que estávamos bem longe de sermos pássaros.


O carrinho caiu com um estrondo, e fomos jogados para todos os lados. Beto saiu voando primeiro, seguido por Rui, Zé e Carlos, que pareciam estar num daqueles filmes de ação em que as explosões lançam todo mundo pelos ares. E eu? Segurei firme o volante até o último segundo, quando o inevitável aconteceu: o carrinho desgovernado nos levou direto para uma poça de lama gigantesca!


Todos fomos arremessados para longe, cobertos de lama da cabeça aos pés, espalhados pelo chão como bonecos de pano. Por alguns segundos, o silêncio reinou – provavelmente porque estávamos todos tentando processar o que havia acabado de acontecer.


Rindo Até Chorar

Mas então, as risadas começaram. Primeiro, uma gargalhada tímida. Depois, como uma onda, todos nós começamos a rir sem parar. A lama, os arranhões, os cotovelos doloridos – nada disso importava. Estávamos exaustos, imundos e, no entanto, felizes como nunca. Porque no fundo, sabíamos que aquilo era muito mais do que uma simples brincadeira: era uma daquelas memórias que carregamos para o resto da vida.


Voltamos para casa todos sujos e cansados, mas com uma sensação de missão cumprida. Aquela descida desastrosa se tornaria uma das histórias mais contadas entre nós, e por mais que os detalhes mudassem a cada nova versão (afinal, boas histórias sempre ficam melhores com o tempo), uma coisa era certa: nossa amizade, nossa coragem juvenil e aquela tarde ensolarada em Santa Comba ficariam para sempre gravadas na memória.


Reflexão Final

Assim eram os dias dos meninos de Santa Comba. Não importava se "sabíamos que ia dar merda", porque o que realmente contava era a aventura, a diversão e a certeza de que, não importa o que acontecesse, estaríamos rindo juntos no final.


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