Guia prático para avaliar decisões reais de líderes e governos com duas perguntas

Introdução

Este texto dirige-se a leitores europeus que desejam olhar para a guerra da Rússia contra a Ucrânia com uma bússola simples. O ponto de partida é declarar onde cada um se posiciona: pró-União Soviética/Rússia ou pró-Ocidente (UE/Ucrânia). Não é tribalismo; é coerência com princípios.

Este guia serve para separar ruído de realidade. Peço que preste atenção, não aos slogans, mas às decisões concretas de políticos e líderes mundiais: votos e vetos, pacotes orçamentais, sanções e a sua execução, contratos energéticos, autorizações de alcance para armamento, calendários de entrega, expulsões diplomáticas, reconhecimentos ou normalizações sem condições.

Critério de avaliação (a bússola)

Use sempre duas perguntas básicas:

1. Encurta a guerra?

2. Aumenta o custo da agressão para o agressor?

Se a resposta for “sim” a ambas, a decisão pertence à Coluna A.

Se for “não” ou “depende” de forma a beneficiar o agressor, pertence à Coluna B.

A proteção de civis decorre destas duas variáveis e será salientada nas notas da tabela quando relevante.

Como funciona a tabela cronológica

A seguir a esta introdução encontra uma tabela, de 2014 (anexação da Crimeia) até 2025, que classifica ações concretas segundo a bússola acima. Cada linha apresenta: data, ação ou decisão, atores envolvidos, classificação na Coluna A ou B e uma breve justificação.

Para facilitar a leitura, as justificações indicam o domínio principal de impacto: militar, diplomático, energético, económico ou informacional.

Como se situar perante a tabela

1. Percorra as linhas por ordem cronológica, do período 2014–2021 à fase de guerra aberta e aos anos recentes.

2. Em cada linha, responda às duas perguntas. Assinale mentalmente a coluna com que concorda.

3. No fim, conte onde mais vezes se reconheceu. Isso indicará se a sua prática real alinha com a Coluna A ou com a Coluna B.

Notas de leitura

• Este trabalho olha para comportamentos e decisões, não para identidades nacionais.

• “Prolongar a guerra” inclui atrasos críticos, vetos sem contrapartidas, dependências energéticas e normalizações diplomáticas que reduzem custos para o agressor.

• “Encurtar a guerra” exige previsibilidade de apoio, execução rigorosa de sanções, independência energética e capacidades de defesa que protejam vidas e infraestrutura.

Tabela cronológica, “Bússola” de ações desde 2014

Critério de avaliação (a bússola):

• Para cada ação, respondo a três perguntas simples: Encurta a guerra?

• Aumenta o custo da agressão para o agressor?

• Protege os inocentes e a infraestrutura civil?

Quanto mais “sim”, mais perto da Coluna A.

Quanto mais “não” ou “depende” que beneficie o agressor, mais perto da Coluna B.

Legenda:

E = Encurta? | C = Aumenta custo ao agressor? | P = Protege inocentes?

| ✓ sim | ✗ não | ~ depende

Como usar esta tabela

1. Defina-se: se respondeu “sim” à maioria das três perguntas para estas medidas, tende para a Coluna A (dissuadir a agressão, encurtar a guerra, proteger civis). Se vê valor em bloqueios, atrasos, dependências energéticas ou “business as usual” com o Kremlin, está mais próximo da Coluna B.

2. Acompanhe: é um documento vivo. Novas decisões (sobre alcance de armamento, sanções secundárias, defesa aérea e uso dos lucros de ativos congelados) podem mover o ponteiro.

3. Debata: se achar que alguma classificação deve mudar, proponha a alteração com base na bússola (E/C/P) e em factos verificáveis.

Conclusão

Esta bússola reduz o ruído a duas perguntas simples e coloca a tónica nos atos. Onde há previsibilidade de apoio, sanções executadas, independência energética e defesa aérea eficaz, a agressão perde valor. Onde há atrasos, vetos, relativismo e negócios que contornam sanções, a agressão compensa e a guerra arrasta-se.

A escolha europeia é concreta: industrial, diplomática, informacional e moral. Cabe-nos alinhar a prática com a Coluna A: produzir e entregar no tempo certo, fechar fugas às sanções, usar lucros de ativos congelados para apoiar a defesa e a reconstrução, proteger civis com meios de defesa aérea e apoio humanitário e planear uma paz justa. Não é contra um povo; é contra um regime que viola fronteiras e direitos.

Convido-o a reler a tabela com a bússola na mão. Em cada decisão, pergunte: encurta a guerra; aumenta o custo da agressão. Se a resposta for sim, está do lado que procura paz com garantias, não apenas uma pausa. Se identificar uma classificação discutível, proponha correção fundamentada com fontes. Este é um documento vivo, aberto a escrutínio e melhoria contínua.

Figura: A Bússola da Guerra

Legenda: à esquerda, a Coluna A (decisões que encurtam a guerra e aumentam o custo da agressão); à direita, a Coluna B (atrasos e conivências que a prolongam). Europa ao fundo, estrelas da UE e a Ucrânia em destaque.

Alt-text: ilustração minimalista em azul com mapa da Europa, bússola central com estrelas da UE, ícones de defesa na Coluna A e de atraso/propaganda na Coluna B, pequena bandeira da Ucrânia.

Assinatura: Secúlo da Cela — João Elmiro da Rocha Chaves