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A Kissange: Um Encontro de Simplicidade e Profundidade Cultural

fev 1

3 min de leitura

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Uma Jornada Histórica e Cultural

Ao longo dos séculos, a Kissange evoluiu em formatos e estilos, refletindo as singularidades de cada povo em Angola e em países vizinhos. As variações vão desde o número de lâminas e a forma de afinação até os métodos artesanais utilizados na escolha da madeira e na ornamentação do instrumento. Em determinadas tradições, sua música embala danças e festejos; em outras, ela assume um papel central em cerimônias religiosas ou em momentos de conexão com os antepassados. Essa dualidade – entre a simplicidade construtiva e a sofisticação sonora e simbólica – ressalta a importância de preservar os saberes ancestrais para as futuras gerações.


Guia Prático para Recriar sua Kissange

Se você deseja mergulhar nesse universo e criar a sua própria Kissange, confira este passo a passo:


1. Obtenção dos Materiais

  • Madeira para a Caixa de Ressonância ou Placa de Som

    • Opte por madeiras nobres como mogno ou kiaat, que oferecem melhor ressonância.

    • Para um modelo mais simples, uma tábua plana já pode ser suficiente; para um som mais encorpado, considere esculpir uma caixa oca.

  • Línguas Metálicas (Lamelas/Tiras)

    • Geralmente confeccionadas em aço ou ferro, muitas vezes reaproveitando molas ou raios de bicicleta.

    • A variação no comprimento, espessura e largura de cada lâmina influenciará diretamente o tom e a sustentação sonora.

  • Barras Metálicas e Cavalete

    • Utilize pelo menos uma barra para fixar as lâminas na parte superior e outra para manter a firmeza delas contra a madeira.

  • Fixadores e Ferramentas

    • Pequenos pregos, parafusos ou arames são essenciais para segurar todas as peças.

    • Equipamentos como serrote, formões, lixas e, se necessário, uma furadeira para criar orifícios de ressonância.

  • Elementos Decorativos

    • Detalhes em entalhes, esculturas ou ornamentos ajudam a personalizar e a homenagear a tradição cultural do instrumento.


2. Construção da Placa de Som ou Caixa de Ressonância

  • Desenho e Corte

    • Defina o formato desejado, que pode variar de um simples retângulo a contornos mais elaborados.

    • Corte ou entalhe a madeira conforme o projeto, separando tampo e fundo se optar por uma caixa de ressonância.

  • Acabamento Inicial

    • Lixe bem todas as superfícies para garantir um toque suave e um visual refinado.

    • Considere a abertura de um ou mais orifícios para melhorar a projeção do som.

  • Detalhes Artísticos

    • Antes de fixar as lâminas, adicione entalhes, esculturas e outros adornos que reflitam motivos culturais ou pessoais.


3. Fabricação e Fixação das Lamelas Metálicas

  • Corte e Modelagem

    • Determine o número de lâminas (variando entre 5 a 15 ou mais, conforme o alcance sonoro desejado).

    • As lâminas com comprimentos diferenciados produzem sons distintos: as maiores emitem tons graves, enquanto as menores geram agudos.

    • Arredonde as pontas para evitar rebarbas e, se possível, crie uma leve curvatura para facilitar o toque com os polegares.

  • Posicionamento e Fixação

    • Distribua as lâminas na parte superior da madeira, garantindo espaço para a vibração.

    • Fixe-as com uma ou duas barras (de metal ou madeira) utilizando pregos, parafusos ou arames, conforme a necessidade.

  • Afinação

    • Teste cada lâmina individualmente e ajuste seu comprimento – empurrando ou puxando sob a barra – para alcançar a afinação desejada.

    • Ferramentas de referência, como afinadores, podem ajudar a obter a escala musical pretendida; pequenas lixas ou cortes podem ser necessários para ajustes finos.


4. Acabamento e Manutenção

  • Tratamento da Superfície

    • Aplique óleo, cera (como a cera de abelha) ou verniz para proteger a madeira e realçar seus veios naturais.

  • Teste e Ajustes Sonoros

    • Após a montagem, toque cada lâmina para avaliar a qualidade sonora.

    • Verifique se há parafusos soltos ou vibrações indesejadas e ajuste a tensão das lâminas ou a posição das barras conforme necessário.

  • Toques Finais

    • Personalize com pinturas, entalhes e outras decorações, mantendo sempre o respeito e a fidelidade à tradição cultural.


Resgatando uma Herança Musical

A Kissange, conhecida em outras partes do continente como mbira ou kalimba, é um símbolo da riqueza cultural africana. Ao recriá-la, você não apenas revigora uma técnica ancestral, mas também se conecta com uma história repleta de fé, ancestralidade e celebração comunitária. Cada ajuste e cada detalhe na construção do instrumento é um tributo à herança dos povos que o mantêm vivo através dos sons e das tradições.


Resumo Rápido

  • Materiais: Utilize madeira de lei para a base e aço/ferro para as lâminas.

  • Construção: Escolha entre uma tábua simples ou uma caixa de ressonância elaborada; prepare a madeira com cuidado e detalhe.

  • Fixação: Corte e ajuste as lâminas em comprimentos variados, fixe-as com barras e pregos/parafusos e faça a afinação final.

  • Acabamento: Proteja a madeira com produtos adequados e personalize com ornamentos que homenageiem a tradição cultural.


Recriar uma Kissange é um verdadeiro exercício de marcenaria, metalurgia e musicalidade. Com paciência e respeito pelos saberes tradicionais, você terá em mãos um instrumento que encanta tanto pela beleza estética quanto pela profundidade sonora, perpetuando a história e o espírito da cultura angolana.



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