Explorando a Rica Cultura de Angola e Portugal

Do Império ao Exílio: O Drama dos Retornados segundo Ramalho Eanes
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Por João Elmiro da Rocha Chaves
Resumo Executivo
António Ramalho Eanes, militar de carreira e figura central no Processo Revolucionário em Curso, serviu como 16.º Presidente da República Portuguesa de 14 de julho de 1976 a 9 de março de 1986 Wikipedia. Reconhecido sobretudo pelo seu papel na neutralização da tentativa de golpe de estado de 25 de novembro de 1975 e pela postura ética que mantinha nas funções presidenciais, Eanes continuou a participar ativamente em debates cívicos mesmo após deixar o cargo Wikipédia, a enciclopédia livre.
Na tarde de 26 de abril de 2024, durante as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o antigo Presidente participou numa aula-debate com estudantes do ensino secundário e universitário no Antigo Picadeiro Real, Museu Nacional dos Coches, em Lisboa Jornal de Notícias. Durante este encontro, Eanes afirmou categoricamente que “a descolonização ia ser trágica e foi”, contrapondo-se à visão de muitos que celebravam o fim do Império Português como um triunfo incontestável Notícias ao Minuto.
O ex-Chefe de Estado recordou que o processo independentista deixou Angola e Moçambique “numa situação de guerra que durou anos e destruiu tudo”, referindo-se às guerras civis angolana (1961–2002) e moçambicana (1964–1992) como exemplos do impacto prolongado do vazio de poder deixado pela saída portuguesa Expresso. Acrescentou que a transição forçou “muitos angolanos” a regressar a um Continente que não conheciam, pois muitos tinham nascido e crescido nos territórios ultramarinos sem qualquer ligação pessoal a Portugal continental Expresso.
Dados históricos apontam que, entre maio de 1974 e novembro de 1975, saíram de Angola para Portugal mais de 300 000 pessoas e de Moçambique cerca de 160 000, constituindo um fluxo migratório sem precedentes marcado pelo termo “retornados” Wikipédia, a enciclopédia livre. Este êxodo massivo transformou-se no maior processo de imigração na história contemporânea de Portugal, colocando desafios profundos de integração social, económica e cultural para uma sociedade já fragilizada pelo PREC Wikipedia.
Eanes enfatizou que muitos desses retornados chegaram a um país que lhes era estranho, com hábitos e estruturas sociais diferentes, o que agravou o seu sentimento de perda e desorientação Escola Portuguesa. Ao invocar a experiência dos retornados, o ex-Presidente convidou a sociedade portuguesa a refletir sobre as lições desse período, sublinhando a necessidade de preservar a memória coletiva dos que viveram essa transição abrupta e suas consequências duradouras sicnoticias.pt.
Contexto Histórico
Antes de detalharmos cada fase, é importante entender que, ao longo de mais de cinco séculos, Portugal construiu um império ultramarino que se estendeu por vastas regiões de África, Ásia e América, assente em conquistas militares e no comércio marítimo, tendo sido sucedido por um regime autoritário (Estado Novo) que travou prolongados conflitos coloniais até à Revolução de 1974 e ao consequente processo de descolonização entre 1974 e 1975. WikipediaWikipédia, a enciclopédia livre A transição de império a democracia envolveu a rápida concessão de independências, mas também o drama humano dos “retornados” e o legado de décadas de guerra em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Wikipédia, a enciclopédia livreReuters
Origem e expansão do Império Português
A era ultramarina portuguesa iniciou-se em 1415 com a conquista de Ceuta, um feito militar que abriu caminho à exploração da costa africana e ao estabelecimento de entrepostos comerciais no Atlântico e no Índico. Wikipedia, la enciclopedia libreHISTORY No seu apogeu, por volta de 1820, o Império Português abrangia cerca de 5,5 milhões de km², tornando-se um dos maiores impérios em extensão territorial na História. WikipediaWikipédia, a enciclopédia livre
O regime do Estado Novo e a Guerra Colonial
O Estado Novo, regime corporativista e autocrático instaurado em 1933, perdurou até à Revolução de 1974, sustentando-se na censura, na PIDE e num discurso nacionalista que justificava a manutenção do império ultramarino. Wikipédia, a enciclopédia livre Durante esse período, entre 1961 e 1974, travou-se a Guerra Colonial em Angola, Moçambique e Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau), mobilizando centenas de milhares de militares e milhares de nativos africanos em conflitos de guerrilha e operações militares convencionais. WikipediaEncyclopedia Britannica Nas províncias africanas, os principais movimentos de libertação — MPLA, FNLA e UNITA em Angola; PAIGC na Guiné-Bissau; e FRELIMO em Moçambique — combateram as forças portuguesas, apoiados por sucessivas ondas de apoio popular e internacional. Wikipédia, a enciclopédia livreWikipédia, a enciclopédia livre
A Revolução dos Cravos e o programa dos “Três Ds”
A 25 de abril de 1974, um movimento de oficiais das Forças Armadas liderou um golpe quase sem derramamento de sangue que derrubou o Estado Novo e pôs fim a 48 anos de ditadura em Portugal. Wikipédia, a enciclopédia livreReuters O Movimento das Forças Armadas (MFA) definiu imediatamente o programa dos “Três Ds” — Democratizar, Descolonizar e Desenvolver —, priorizando eleições livres, concessão de independências às províncias ultramarinas e a modernização económica de Portugal continental. Wikipédia, a enciclopédia livreWikipédia, a enciclopédia livre
Processos de independência e desmantelamento colonial
Entre setembro de 1973 e novembro de 1975, as antigas colónias portuguesas em África conquistaram a independência: Guiné-Bissau em 24 de setembro de 1973 (reconhecida em 1974) Wikipédia, a enciclopédia livre; Moçambique em 25 de junho de 1975 Wikipédia, a enciclopédia livre; Cabo Verde em 5 de julho de 1975 Wikipédia, a enciclopédia livre; São Tomé e Príncipe em 12 de julho de 1975 Wikipedia; e Angola em 11 de novembro de 1975, nos termos dos Acordos de Alvor. Wikipédia, a enciclopédia livre Nesse período, cerca de 300 000 pessoas saíram de Angola e 160 000 de Moçambique para Portugal como “retornados”, enfrentando graves desafios de integração num país fragilizado pelo PREC e pela escassez de recursos. Wikipédia, a enciclopédia livre
As Declarações de Eanes
No dia 26 de abril de 2024, durante uma aula-debate com estudantes do ensino secundário e universitário realizada no Antigo Picadeiro Real, Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, António Ramalho Eanes, 16.º Presidente da República (1976–1986) e antigo Chefe de Estado-Maior do Exército com participação direta na Guerra Colonial Portuguesa, fez declarações fortes sobre o processo do fim do Império Português SIC NotíciasWikipedia.
Eanes afirmou, sem hesitar, que
“A descolonização ia ser trágica e foi.”
Nestas palavras, o ex-Presidente contrapôs a visão triunfalista de muitos observadores, ressaltando o caráter doloroso e conflituoso da transição pós-25 de Abril SIC Notícias.
Prosseguindo, reforçou que
“Eu digo isto com à vontade, eu sei que muita gente acha que foi uma coisa maravilhosa, mas não foi.”
Com isto, Eanes convidou à reavaliação crítica dos mitos que rodeiam aquele momento histórico, alertando para os custos humanos e materiais deixados na sequência imediata da independência SIC Notícias.
O antigo Chefe de Estado recordou ainda que o processo de descolonização
“Deixou aqueles países, Angola e Moçambique, numa situação de guerra que durou anos e destruiu tudo.”
Referindo-se à longa Guerra Civil Angolana (1961–2002) e ao conflito moçambicano (1964–1992), Eanes apontou o vácuo de poder e a escalada de violência que se seguiram ao abandono português SIC Notícias.
Na mesma intervenção, sublinhou o drama dos chamados retornados, ao referir que
“Foram obrigados a regressar ao Continente muitos angolanos, que não conheciam outra pátria, nem conheciam outra terra.”
Destacou-se assim a situação peculiar dos cidadãos nascidos e criados nas ex-províncias ultramarinas, sem qualquer vivência anterior em Portugal continental SIC Notícias.
Numa forma de resumir o trauma da descontinuidade, Eanes concluiu:
“De repente, são obrigados a voltar a uma terra que tinha sido dos seus antepassados, mas que eles não conheciam.”
Essa frase sintetizou o choque identitário e a desorientação vividos pelos retornados no imediato pós-independência SIC Notícias.
Estas declarações de um militar com largo conhecimento do teatro africano — tendo servido em várias frentes durante a Guerra Colonial Portuguesa, um conflito de treze anos contra MPLA, FNLA, UNITA, PAIGC e FRELIMO (1961–1974) — adquirem particular peso histórico e moral WikipediaWikipedia.
O contexto em que foram proferidas remonta à data em que Portugal celebrava o 50.º aniversário do 25 de Abril, quando a “Revolução dos Cravos” gerou uma descolonização rápida e, para muitos, traumática, conforme recordado por observadores e agências internacionais Reuters.
As afirmações de Eanes alimentaram também o debate público sobre a memória coletiva e a necessidade de enfrentar o legado colonial, tema que tem ganho relevo em instâncias europeias, como as recomendações do Conselho da Europa para Portugal refletir mais profundamente sobre o seu passado colonial Reuters.
Por fim, as palavras de Eanes ecoam o entendimento de que a descolonização portuguesa de África — iniciada com a declaração unilateral de independência da Guiné-Bissau em 1973 e concretizada entre junho e novembro de 1975 para Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Angola —, longe de ser um simples ato legal, constituiu um processo marcado por rupturas brutais e dolorosas pt.wikipedia.org.
Impacto Humano e Demográfico
A descolonização portuguesa desencadeou um dos maiores movimentos migratórios e crises humanitárias do século XX em Portugal e nas ex-colónias. Centenas de milhares de “retornados” enfrentaram dificuldades de integração num país em convulsão, enquanto as guerras civis em Angola e Moçambique causaram centenas de milhares de mortes, milhões de deslocados e a destruição generalizada de infraestruturas essenciais. Os efeitos tiveram repercussões imediatas e intergeracionais, marcando profundamente as sociedades envolvidas.
Êxodo dos Retornados
Entre maio de 1974 e novembro de 1975, mais de 300 000 pessoas saíram de Angola para Portugal e cerca de 160 000 provenientes de Moçambique chegaram ao continente como “retornados” Wikipédia, a enciclopédia livre. A estes números juntaram-se fluxos menores, mas ainda significativos, de retornados de Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, embora existam menos dados precisos sobre estes últimos Wikipédia, a enciclopédia livre.
Para gerir este êxodo, foi criado o Instituto de Apoio ao Regresso dos Nacionais (IARN), destinado a assistir cidadãos que regressavam “involuntariamente” e sem meios de subsistência suficientes trafo.hypotheses.org. Muitos retornados enfrentaram escassez de alojamento, desemprego prolongado e barreiras culturais, o que agravou sentimentos de perda identitária e marginalização social trafo.hypotheses.org.
Guerra Civil Angolana (1975–2002)
Após a independência em novembro de 1975, Angola mergulhou numa guerra civil que perdurou até abril de 2002, totalizando 26 anos de conflito continuado Wikipedia. Estima-se que entre 500 000 e 800 000 pessoas tenham morrido e cerca de 4 000 000 tenham sido deslocadas, interna e externamente; aproximadamente 70 000 amputações ocorreram devido a minas terrestres Wikipedia.
A guerra arrasou a infraestrutura nacional: estradas, pontes, vias ferroviárias, hospitais e escolas ficaram em ruínas, com custos de reconstrução estimados em 35 mil milhões de dólares ReliefWeb.
Guerra Civil Moçambicana (1964–1992)
Em Moçambique, o combate entre FRELIMO e RENAMO prolongou-se como guerra civil de 1977 a 1992, seguindo a guerra de independência (1964–1974) Wikipedia. O conflito causou mais de 1 000 000 de mortes diretas e por fome e deslocou aproximadamente 5 000 000 de pessoas pelo país Wikipedia.
A destruição atingiu extensivamente hospitais, vias de transporte, escolas e linhas férreas, comprometendo o acesso a serviços básicos e retardando décadas de desenvolvimento económico e social Wikipedia.
Conflito da Guiné-Bissau e Legado Regional
O processo de descolonização e guerra de libertação na Guiné-Bissau (1963–1974) provocou cerca de 6 000 mortos e 5 000 civis vítimas diretas de operações militares, além de 2 069 feridos e 3 830 incapacitados permanentemente Wikipedia. Tal como em Angola e Moçambique, a Guiné-Bissau assistiu a deslocações populacionais, rupturas económicas e necessidade de reconstrução dos tecidos sociais.
Impacto Sócio-Emocional e Legado Intergeracional
Para além das estatísticas, o êxodo e a guerra deixaram trauma coletivo. Muitos retornados sofreram um choque identitário, sentindo-se estrangeiros num país do qual não tinham memórias pessoais nem laços sociais sólidos mdpi.com. Nas ex-colónias, comunidades inteiras viveram a perda de familiares, orfandade, viúvas e o colapso de estruturas comunitárias, efeitos que moldaram gerações subsequentes.
O debate em Portugal sobre reparações pelo legado colonial intensificou-se em 2024, após o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa reconhecer a responsabilidade histórica do país e sugerir mecanismos como perdão de dívidas e concessão de linhas de crédito às ex-colónias, embora o Governo tenha declarado não haver planos para qualquer programa de reparações específico ReutersReuters. Internamente, historiadores e associações de retornados têm exigido medidas concretas — desde compensações financeiras até devolução de bens culturais e inclusão curricular do passado colonial — como forma de reparar injustiças passadas SIC NotíciasSIC Notícias. No plano internacional, o impulso da União Africana, com um plano de ação em dez pontos, e as recomendações de organismos como o Conselho da Europa têm reforçado a necessidade de Portugal alinhar-se com as práticas globais de justiça reparatória, mas as respostas efetivas permanecem tímidas e fragmentadas Al JazeeraReuters.
Perspetivas Atuais e Debate sobre Reparações
Propostas Presidenciais e Posição Governamental
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que Portugal deve “assumir plenamente a responsabilidade” pelos crimes cometidos durante a escravatura transatlântica e o período colonial, sugerindo reparações sob a forma de perdão de dívidas, linhas de crédito e cooperação económica com as ex-colónias ReutersRádio Renascença. Todavia, o Governo veio a público esclarecer que “não existem planos ou programas para ações específicas de reparações” e sublinhou o compromisso em aprofundar as relações de cooperação cultural, educacional e sanitária com Angola, Moçambique e Brasil, sem menção a compensações financeiras Reuters. A posição do Executivo suscitou críticas de partidos de direita, que viram os comentários presidenciais como uma ameaça ao orçamento nacional, mas também gerou debate sobre a possibilidade de instrumentos não financeiros de reparação Reuters.
Pressões da Academia e da Sociedade Civil
No meio académico, figuras como Luís Trindade, diretor do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, defendem que Portugal está “forçado, até por pressões sociais” a rever criticamente o seu passado colonial e implantar reparações simbólicas e materiais para pacificar relações e promover reconciliação SIC Notícias. Organizações de retornados e associações de afrodescendentes em Portugal também têm apelado à criação de um fundo nacional de compensações, acompanhado de campanhas de educação histórica nas escolas, de forma a combater o racismo estrutural herdado do império SIC Notícias.
Contexto Internacional e Demandas Globais
A nível global, a União Africana aprovou um plano de ação em dez pontos que inclui pedidos de desculpas formais, redução de dívida externa, transferência tecnológica e programas de saúde e educação como formas de reparação Al Jazeera. A Comunidade dos Estados Caribenhos (CARICOM) lançou esforços semelhantes junto por ex-potências europeias, embora sem resultados concretos até ao momento Reuters. Paralelamente, o Conselho da Europa instou Portugal a “tacklear o legado colonial e as estruturas repressivas” por meio de políticas públicas e revisão curricular, sublinhando que a reparação não se limita a compensações financeiras, mas inclui justiça educativa e cultural Portal.
Perspetivas Futuras
Apesar das iniciativas presidenciais e das pressões internas e externas, a concretização de reparações em Portugal enfrenta obstáculos políticos, orçamentais e de consenso social. O apoio do Brasil, através da oferta de cooperação na implementação de medidas reparatórias pelo ministro da Igualdade Racial, Anielle Franco, abre caminho a parcerias internacionais para partilha de boas práticas Reuters. À medida que o debate ganha visibilidade nas redes sociais e meios de comunicação, espera-se que surjam propostas legislativas para criar mecanismos formais de reparação, potencialmente incorporando representantes das ex-colónias e da diáspora africana para assegurar legitimidade e eficácia futura.
O papel de António Ramalho Eanes na transição de um regime autoritário para a democracia ficou marcado pela sua atuação decisiva em momentos de crise, pela coordenação de forças moderadas dentro do Movimento das Forças Armadas (MFA) e pela consolidação do Estado democrático através de eleições livres e promulgação de uma nova Constituição.
O Papel de Eanes na Transição Democrática
Carreira Militar e Envolvimento no MFA
António Ramalho Eanes, oficial de carreira que participou na Guerra Colonial em África, ascendeu ao posto de General Chefe do Estado-Maior do Exército, cargo que ocupou entre julho de 1976 e fevereiro de 1981 Wikipédia, a enciclopédia livreWikipédia, a enciclopédia livre. Ainda de serviço em Angola quando ocorreu a Revolução dos Cravos, Eanes aderiu ao MFA e, de regresso a Portugal, foi nomeado presidente do conselho de administração da RTP até março de 1975 Wikipedia, a enciclopedia libre. Como adjunto de Vasco Lourenço, destacou-se no comando que se recusou a bombardear facções da extrema-direita, contribuindo para conter os elementos mais radicais dentro das Forças Armadas Wikipédia, a enciclopédia livre.
Grupo dos Nove e Verão Quente de 1975
No Verão de 1975, durante o período turbulento do Processo Revolucionário em Curso (PREC), Eanes coordenou operacionalmente o “Plano dos Coronéis” — também conhecido como Grupo dos Nove —, que visava impedir a tomada de poder pelas facções mais extremistas do MFA e preservar a emergência de uma democracia plural Wikipédia, a enciclopédia livreWikipédia, a enciclopédia livre.
A Crise de 25 de Novembro de 1975
A 25 de novembro de 1975, partes das Forças Armadas radicalizadas iniciaram um golpe contra o Conselho da Revolução. Eanes liderou a contra-ofensiva que neutralizou a tentativa de poder paralelo, restabelecendo a autoridade constitucional e encerrando o PREC Wikipédia, a enciclopédia livreWikipedia. Esse gesto foi determinante para evitar uma guerra civil e lançou as bases para a consolidação da democracia representativa em Portugal Wikipédia, a enciclopédia livre.
Eleição Presidencial e Promulgação da Constituição
Graças ao prestígio alcançado na Crise de 25 de Novembro, Eanes tornou-se o primeiro Presidente da República eleito por sufrágio universal em 27 de junho de 1976, sendo o candidato mais votado em quase todos os distritos do país Wikipédia, a enciclopédia livreWikipédia, a enciclopédia livre. Ainda antes da sua tomada de posse, em abril de 1976 foi aprovada a nova Constituição da Terceira República, estabelecendo direitos fundamentais, separação de poderes e regime político parlamentar‐presidencialista Wikipédia, a enciclopédia livre.
Consolidação do Regime Democrático
No exercício das suas funções constitucionais — como Comandante Supremo das Forças Armadas e Grão-Mestre das Ordens Honoríficas —, Eanes atuou como garante da independência nacional e da unidade da Nação, usando ocasionalmente o veto presidencial para equilibrar forças políticas e assegurar o regular funcionamento das instituições Wikipédia, a enciclopédia livre. A sua postura moderada e o respeito pelos limites constitucionais ajudaram a estabilizar o sistema democrático durante o período de fragilidade institucional que se seguiu à revolução Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conclusão
António Ramalho Eanes simboliza o ponto de converg ência entre o legado colonial e a edificação da democracia em Portugal, reforçando que a descolonização foi marcada por rupturas profundas e sofrimento humano . O fenómeno dos retornados — mais de um milhão de pessoas forçadas a deixar as antigas colónias sem meios nem referências — revelou um desafio social e identitário de grande envergadura . O vácuo de poder nas ex-províncias ultramarinas transformou-se em violência prolongada, como atestam os 800 000 mortos e os 4 000 000 de deslocados na Guerra Civil Angolana , os mais de 1 000 000 de mortos e cerca de 5 000 000 de deslocados na Guerra Civil Moçambicana e as milhares de vítimas na Guiné-Bissau Wikipedia.
A intervenção de Eanes na Crise de 25 de Novembro de 1975, documentada em arquivos da RTP, impediu a escalada para uma guerra civil interna, consolidando o processo revolucionário em curso e abrindo caminho para a Constituição de 1976 e o pluralismo partidário . Como Presidente da República, utilizou o poder de veto e mediou conflitos políticos, desempenhando um papel moderador que foi determinante para a estabilidade institucional no fim do PREC .
O debate contemporâneo sobre memória e reparações reforça a urgência de Portugal confrontar o seu passado, através de reformas educativas e iniciativas de justiça histórica, conforme recomendado pelo Conselho da Europa e pela European Commission Against Racism and Intolerance . Em paralelo, propostas como a de Marcelo Rebelo de Sousa para um estudo de reparações e o Plano de Ação da União Africana ilustram a dimensão global desta questão e a necessidade de medidas concretas de cooperação e reconciliação .
A reflexão proposta por Eanes convoca a sociedade portuguesa e as nações ex-colonizadoras a preservarem uma memória activa, honesta e plural, capaz de transformar as cicatrizes do passado em compromisso com a justiça e o respeito mútuo, moldando relações futuras entre os povos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e para além dela .
Works Cited
Esta secção compila as referências utilizadas em cada parte do artigo, incluindo o artigo da SIC Notícias sobre as declarações de Eanes SIC Notícias, páginas da Wikipedia sobre António Ramalho Eanes, a Revolução de 25 de Abril, a Guerra Colonial e o Império Português WikipediaWikipedia, assim como reportagens da Reuters sobre o debate das reparações e outros contextos internacionais ReutersReuters.
SIC Notícias. “Ramalho Eanes diz que a descolonização foi ‘trágica’ e que a guerra ‘destruiu tudo’.” SIC Notícias, 26 Abr 2024. SIC Notícias
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Wikipedia. “Descolonização portuguesa de África.” Wikipedia, consultado em Abril 2025. Wikipedia
Wikipedia. “Portuguese Empire.” Wikipedia, consultado em Abril 2025.
Reuters. “Portugal's government rejects paying reparations for colonial, slavery legacy.” Reuters, 27 Abr 2024. Reuters
Reuters. “Portugal must 'pay costs' of slavery and colonial crimes, president says.” Reuters, 24 Abr 2024. Reuters
Reuters. “Portugal rejects far-right bid to charge president with treason over slavery reparations.” Reuters, 15 Mai 2024. Reuters
Reuters. “Where Europe, US stand on slavery reparations.” Reuters, 25 Out 2024. Reuters
Reuters. “Portugal should apologise, confront past role in slavery, says president.” Reuters, 25 Abr 2023. Reuters
Reuters. “Brazilian minister offers help for Portugal to tackle legacy of slavery.” Reuters, 26 Jun 2024. Reuters
Lusa. “25 de Abril: o complicado e traumático ‘dossier’ da descolonização.” Lusa, consultado em Abril 2024.
Reuters. “Advocates for reparations say Dutch slavery apologies not enough.” Reuters, 1 Jul 2024. Reuters
Sobre o Autor
João Elmiro da Rocha Chaves (n. 13 de fevereiro de 1959, Waku Kungo, Angola) é Engenheiro Eletrónico na Micron Technology e autor de mais de 320 publicações no elmirochaves.com, onde explora memória histórica, tecnologias de memória DRAM e poesia ao estilo de Camões ContentWriters.
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Agradecimentos
Agradeço a LENA pela revisão linguística e pela criação das imagens que ilustram este artigo lifewire.com.
