Explorando a Rica Cultura de Angola e Portugal


Resumo do livro
Este livro acompanha 1951–2025 para explicar por que falhou a transição pactuada no Acordo do Alvor e como, décadas depois, se consolidou a paz de 2002, propondo uma grelha analítica que articula desenho institucional, incentivos externos e ciclos de recursos. Sustenta-se que a inserção de Angola na Guerra Fria — com apoios cruzados às facções armadas — e a economia do petróleo condicionaram, de forma persistente, as decisões militares, diplomáticas e fiscais ao longo de meio século. Não se trata apenas de cronologia: é uma leitura causal que liga escolhas institucionais a resultados políticos e económicos, mostrando quando e porquê as decisões de alto nível produziram paz, impasse ou conflito aberto.
A análise assenta em tratados e acordos (Alvor, Acordo Tripartido de Nova Iorque, Bicesse, Lusaka, Luena), resoluções da ONU, documentação diplomática comparada (incluindo FRUS e arquivos lusófonos/africanos), séries estatísticas oficiais (macro-económicas, preços do petróleo, demografia) e literatura académica. A metodologia combina leitura documental, triangulação de fontes e síntese cartográfica/cronológica para reduzir vieses inerentes a memórias de guerra e narrativas político-partidárias; os mapas e linhas do tempo funcionam como guia visual para lugares, tempos e actores.
O percurso organiza-se em quatro blocos. Primeiro, o antes de Alvor (1951–1974): a engenharia jurídico-política das “províncias ultramarinas”, 1961 como ano-charneira (Baixa do Cassanje, 4 de Fevereiro e 15 de Março) e o cerco internacional da autodeterminação. Segundo, o Acordo do Alvor (1975): desenho institucional, ambições e fragilidades (colegialidade com múltiplos vetos, cadeia de comando difusa, ausência de verificação independente), rapidamente expostas pela escalada de 1975.
Terceiro, 1975–1994: mapeiam-se as frentes de 1975–88, o impasse estratégico de Cuito Cuanavale e a via negocial (Brazzaville/Nova Iorque, implementação da Resolução. 435, Bicesse, eleições de 1992 e Lusaka). Quarto, o pós-2002: caracteriza-se a reconstrução 2002–2014 financiada por crédito colateralizado em petróleo, com ganhos infra-estruturais e dependências macro; e examinam-se os choques de 2014–2025 (ajuste com FMI, debate de quotas e saída da OPEP, reforma de subsídios), incluindo as respostas monetárias e o impacto social.
O contributo principal é mostrar que instituições importam: Alvor fracassou menos por falta de calendário do que por mecanismos de execução e verificação inadequados num ambiente de competição armada e interferência externa. A paz de 2002 resultou de uma convergência entre condições militares, alinhamentos regionais e escolhas políticas internas, mas a prosperidade que se seguiu revelou vulnerabilidades cíclicas típicas de economias petrolíferas. O livro traduz essas lições em princípios de política pública: necessidade de instituições inclusivas e previsíveis, diversificação produtiva e finanças públicas anti-cíclicas (regra orçamental, fundos de estabilização, gestão cambial e transparência na receita do petróleo), sem as quais os ganhos de paz e reconstrução permanecem expostos a choques externos e a ciclos de captura.
Além da narrativa histórica, oferece-se um aparato documental (notas, cronologias, glossário de siglas e lista de figuras) para leitores académicos e decisores políticos. O propósito final é contribuir para uma memória factual e para um debate informado sobre caminhos institucionais e económicos capazes de transformar soberania jurídica em bem-estar amplo e duradouro.
Palavras-chave: Acordo do Alvor; Guerra Fria; Cuito Cuanavale; Acordo Tripartido; Bicesse; Lusaka; Luena; petróleo; OPEP; FMI; instituições.
Delimitações e terminologia
Ortografia: PT-PT clássico (pré-AO90); escreve-se arquitectura, actor, acção, infra-estruturas, projecto, etc.
Toponímia histórica: usa-se a designação vigente à época (ex.: Zaire para 1965–1997; Congo-Brazzaville e Kinshasa; Rodésia do Sul/Zimbabwe; Sudoeste Africano/Namíbia até 1990). Cabinda é tratada como província de Angola (art. 3.º do Alvor).
Datas e números: formato AAAA-MM-DD; décadas “anos 1970”. Vírgula decimal (2,5%) e espaço fino para milhares (1 000). “Bilião” = 10⁹ (uso europeu).
Moeda: escudo até 1977; depois kwanza (códigos AOK/AON/AOA conforme o período). Valores históricos são indicativos quando não há séries homogéneas.
Siglas: mantêm-se no idioma original, com expansão na primeira ocorrência (ex.: UNAVEM, SADF, SWAPO, OPEP).
Citações e estilo: Chicago — Notas & Bibliografia; aspas « »
