Explorando a Rica Cultura de Angola e Portugal

Colonato da Cela: A Construção de uma Comunidade em Angola
2
19
0
O Colonato da Cela, localizado no planalto de Waku Kungo, no Cuanza Sul, foi um dos principais símbolos do desenvolvimento agrícola e demográfico em Angola durante o período em que o território era considerado uma província ultramarina de Portugal. Fundado nos anos 50 como parte de um plano ambicioso do Estado Novo para promover a colonização e modernização agrícola em larga escala, este projeto visava transformar vastas áreas inexploradas em centros produtivos de excelência, proporcionando oportunidades para famílias portuguesas que ali se estabeleceram.
A Visão do Estado Novo para Angola
A Expansão Territorial e Demográfica
Nos anos 50, o regime de Salazar estava comprometido em consolidar o domínio de Portugal sobre os seus territórios ultramarinos. A integração de Angola como uma província ultramarina em 1951 reforçou a intenção de criar colónias agrícolas e promover o povoamento português nas regiões mais férteis do território. O Colonato da Cela foi uma das várias iniciativas promovidas pelo governo, com o objetivo de utilizar as vastas terras de Angola para aumentar a produção agrícola e, ao mesmo tempo, assegurar uma presença portuguesa sólida e permanente.
O Projeto de Colonização Agrícola
A política de colonização agrícola tinha uma clara vertente de integração económica e social. Era parte de uma estratégia para atrair famílias portuguesas, oferecendo-lhes terras para cultivo e apoio técnico e logístico. Estas famílias, muitas das quais vinham do continente, não viam Angola como uma colónia distante, mas como uma extensão do seu próprio país. Esse espírito de "continuação do Portugal além-mar" foi fomentado pelo governo, que promovia a ideia de que o trabalho em Angola era uma contribuição direta para o desenvolvimento do império português.
Santa Comba - Cela (Waku Kungo): A Escolha da Região
Condições Geográficas do Planalto
A escolha de Santa Comba - Cela (Waku Kungo) para a instalação do Colonato da Cela não foi ao acaso. O planalto do Cuanza Sul apresentava condi ções favoráveis para a agricultura, com vastas planícies, altitude moderada e um clima relativamente ameno, especialmente em comparação com as regiões costeiras de Angola. Estas condições tornavam a região ideal para o cultivo de cereais, legumes, e para a criação de gado.
Além disso, a proximidade de importantes vias de transporte facilitava o escoamento da produção agrícola para os principais centros urbanos, como Luanda e Benguela. A localização estratégica do planalto, no coração de Angola, fez de Waku Kungo um ponto central para o desenvolvimento agrícola e um local promissor para o estabelecimento de famílias portuguesas.
Os Primeiros Passos na Criação do Colonato
Nos primeiros anos de estabelecimento, as famílias recém-chegadas encontraram um terreno vasto e inexplorado, com poucas infraestruturas. A transformação desta paisagem natural em terras cultiváveis exigiu um esforço coletivo enorme. Equipamentos básicos foram distribuídos às famílias, e animais de tração, como bois e burros, eram usados para arar a terra e preparar os campos. Aos poucos, o colonato começou a ganhar forma, com estradas de terra batida, poços artesianos, e casas organizadas em fileiras.
A Importância das Primeiras Famílias
As primeiras famílias a chegar ao Colonato da Cela enfrentaram desafios consideráveis, mas também traziam consigo uma determinação implacável de construir um futuro melhor. Com o apoio do governo português, que forneceu ferramentas, materiais de construção e parcelas de terra, essas famílias lançaram as bases para uma comunidade próspera. Em troca, esperava-se que elas contribuíssem para a produção agrícola de Angola, reforçando a ideia de que cada colono era parte de um projeto maior de desenvolvimento e autossuficiência.
A Transformação das Terras
O Desafio de Cultivar a Terra
O trabalho agrícola no Colonato da Cela foi um empreendimento complexo, que exigiu uma combinação de técnicas tradicionais e modernas. Muitas das terras destinadas ao cultivo eram inicialmente cobertas por vegetação densa, que precisava de ser desbravada antes que qualquer plantio pudesse ocorrer. Este processo de "limpeza" da terra foi realizado em grande parte de forma manual, com o auxílio de animais de tração.
As primeiras culturas plantadas incluíam milho, feijão, trigo e café, que se adaptaram bem às condições do planalto. Estas culturas foram fundamentais para garantir a subsistência das famílias e para criar excedentes que poderiam ser comercializados, tanto localmente quanto nas cidades maiores de Angola.
A Introdução de Técnicas Inovadoras
À medida que o Colonato crescia, novas técnicas agrícolas começaram a ser implementadas, muitas das quais trazidas de Portugal. A introdução de práticas de rotação de culturas, a irrigação com poços artesianos e a inseminação artificial para melhorar a produção pecuária, são exemplos dessas inovações. Estas práticas foram fundamentais para aumentar a produtividade das terras e garantir a viabilidade económica do Colonato.
A I Exposição Agro-Pecuária da Cela, realizada em 1967, destacou os avanços realizados em áreas como a pecuária e o cultivo em grande escala. Este evento marcou uma nova era para o Colonato, atraindo a atenção de outros centros agrícolas em Angola e destacando a Cela como um modelo de sucesso.
Vida Comunitária e Solidariedade
A Formação de uma Comunidade Unida
Desde o início, o Colonato da Cela desenvolveu-se com um forte sentido de comunidade, onde a cooperação entre famílias era essencial para o sucesso do projeto. As famílias recém-chegadas rapidamente perceberam que o trabalho conjunto era a chave para superar os desafios que enfrentavam diariamente. Essa união tornou-se uma característica central do Colonato, visível tanto no trabalho no campo quanto na vida social.
Os laços entre os moradores foram fortalecidos pela necessidade de apoio mútuo em todos os aspectos da vida. Ao ajudarem-se nas colheitas, nas construções das moradias ou até mesmo nas festividades e celebrações religiosas, os habitantes do Colonato construíram uma rede de solidariedade que proporcionava segurança e conforto. As imagens que retratam homens e mulheres a trabalhar lado a lado nos campos, assim como as crianças a brincar nas ruas de terra batida, são um reflexo desse espírito de cooperação que definia a vida no Colonato da Cela.
Festividades e Celebrações Religiosas
A religião católica desempenhou um papel central na vida social e espiritual das famílias no Colonato da Cela. A Igreja Nossa Senhora da Assunção, cujo granito para a construção foi transportado pelos próprios colonos, emergiu como o principal ponto de encontro da comunidade. Esta igreja, com a sua arquitetura imponente, tornou-se o coração espiritual do Colonato, onde missas, procissões e eventos religiosos eram realizados com frequência.
Uma das tradições mais marcantes era a celebração anual das procissões religiosas, onde os habitantes se reuniam em torno da igreja e percorriam as ruas do Colonato em homenagem aos santos. Nestas ocasiões, as ruas eram enfeitadas com flores e as famílias vestiam-se de forma mais festiva, reforçando o sentido de pertença e identidade coletiva. As primeiras comunhões, como mostram algumas imagens, eram também momentos de grande significado para as famílias, um rito de passagem celebrado com grande entusiasmo.
Além disso, eventos como casamentos e batizados uniam a comunidade em momentos de celebração. Esses eventos religiosos e sociais não apenas reforçavam a fé católica, mas também ajudavam a criar uma rede de apoio emocional e espiritual entre as famílias, que partilhavam a vida em Angola com um forte sentido de propósito e esperança.
Infraestruturas Sociais: Escolas e Serviços
O desenvolvimento do Colonato da Cela não se limitava à produção agrícola. A criação de escolas, hospitais e centros comunitários foi fundamental para garantir a qualidade de vida dos seus habitantes. O Hospital da Cela, como podemos ver nas fotografias, era uma peça-chave na prestação de cuidados de saúde para as famílias que ali viviam. Embora modesto em comparação com os padrões europeus da época, o hospital oferecia serviços médicos essenciais, tratando doenças tropicais e garantindo que as crianças nascessem com segurança.
As escolas primárias também desempenharam um papel vital na formação das gerações mais jovens. Com o aumento populacional do Colonato, foi necessário estabelecer instituições de ensino que seguissem o modelo de educação português. Crianças frequentavam estas escolas, onde aprendiam a ler e a escrever em português, ao mesmo tempo que se preparavam para contribuir para o desenvolvimento futuro da comunidade.
Os professores, que muitas vezes vinham do continente, desempenhavam um papel crucial na formação das crianças, inculcando nelas os valores da cultura portuguesa e da fé católica. A educação formal no Colonato da Cela representava uma esperança para as famílias, que viam na escolarização uma oportunidade de melhorar a vida dos seus filhos e abrir portas para novas oportunidades.
Os Desafios Agrícolas e as Inovações
Adaptação ao Clima e ao Solo
Transformar a vastidão do planalto de Waku Kungo em terras férteis foi uma tarefa árdua. Embora a região fosse reconhecida por suas boas condições para a agricultura, os colonos tiveram de se adaptar rapidamente às realidades do clima angolano. A alternância entre estações de seca e chuvas pesadas criou desafios na manutenção da consistência das colheitas.
A natureza do solo, em algumas áreas, também exigia técnicas específicas para garantir que a produtividade fosse maximizada. Os primeiros anos foram marcados por tentativas e erros, à medida que as famílias exploravam as melhores maneiras de cultivar milho, feijão, trigo e café. Algumas das culturas prosperavam, enquanto outras enfrentavam dificuldades devido à variação do clima.
Inovações Técnicas e a Primeira Exposição Agro-Pecuária
À medida que o Colonato se expandia, o governo português, juntamente com os agricultores locais, começou a introduzir inovações tecnológicas que ajudariam a superar muitos dos obstáculos agrícolas. A irrigação, que inicialmente dependia de poços artesianos, foi modernizada em algumas áreas, permitindo o cultivo durante os períodos de seca. A criação de gado também passou por inovações, com a introdução de práticas como a inseminação artificial, que visava melhorar a qualidade das criações.
A Primeira Exposição Agro-Pecuária da Cela, realizada em 1967, foi um marco nesse desenvolvimento. O evento destacou os progressos feitos na região e atraiu a atenção de outras zonas agrícolas de Angola. Esta exposição não só serviu para apresentar as inovações agrícolas e pecuárias, mas também reforçou a importância da Cela como um centro de produção exemplar. As imagens do evento mostram o orgulho dos habitantes locais, que viram no Colonato uma fonte de orgulho e progresso.
O Papel dos Animais no Sucesso Agrícola
Os animais desempenharam um papel central no sucesso do Colonato da Cela. Bois, burros e mulas eram usados para arar a terra, transportar cargas pesadas de feno, cereais e outros produtos. As imagens de carroças sendo puxadas por bois ao longo das estradas de terra batida são um reflexo da dependência desses animais para o sucesso agrícola do colonato.
Além disso, a criação de gado era fundamental para garantir a subsistência das famílias. O leite, a carne e outros derivados eram essenciais para a alimentação local, e os animais também serviam como uma forma de renda adicional, com a venda de gado e produtos lácteos para mercados em cidades maiores.
Conclusão
O Colonato da Cela foi mais do que um simples projeto agrícola; foi a materialização de um sonho de desenvolvimento e progresso numa terra de vasto potencial. As famílias que ali viveram não apenas construíram uma nova vida para si, mas também contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento de Angola como província ultramarina de Portugal. A vida no colonato era marcada por desafios constantes, mas também por um profundo sentido de comunidade, cooperação e esperança no futuro.
As imagens que restam daquele tempo capturam o espírito indomável de uma comunidade unida, que transformou terras inexploradas em campos férteis e construiu uma sociedade vibrante em pleno coração de Angola. O legado do Colonato da Cela continua a ser uma história de perseverança, inovação e solidariedade, um exemplo de como a determinação pode transformar paisagens e vidas.



























