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Maria Vieira: factos documentados e a ponte entre São Sebastião e Santa Comba
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Maria Vieira, devoção e a memória dos seus pais (1940–1975)

Introdução
Este artigo reúne o que está documentado sobre Maria Vieira da Silva, jovem terceirense da Vila de São Sebastião, e integra a minha lembrança pessoal dos seus pais — Júlio de Sousa da Silva e Isabel Vieira da Silva (tia Isabelinha) — nos derradeiros dias que antecederam 6 de Agosto de 1975, em Santa Comba (Waku Kungo, Angola). A ligação entre as nossas famílias tem ainda outra raiz: a minha mãe, Vivelina, também nasceu em São Sebastião.
Quem foi Maria Vieira
Nascimento e filiação. Maria Vieira da Silva nasceu a 11 de novembro de 1926 na Vila de São Sebastião, filha de Júlio de Sousa da Silva e Isabel Vieira da Silva. Vila São Sebastião
O acontecimento de 1940. A 4 de junho de 1940, quando levava o almoço ao pai, Maria foi atacada; faleceu no dia seguinte no Hospital de Santo Espírito, sendo sepultada no Cemitério da Conceição (Angra do Heroísmo). As fontes eclesiais registam que, antes de morrer, pronunciou o nome do agressor e perdoou-o. Vila São Sebastião Diocese of Angra
O processo de beatificação
O bispo de Angra autorizou o início do processo em fevereiro de 2018. A fase diocesana foi concluída em 2024 e, em 28 de fevereiro de 2025, o processo foi entregue no Vaticano para a fase romana. igrejaacores.pt+1Jornal de Not ícias
A ponte de São Sebastião
Para além da história documentada, existe um elo afetivo: a minha mãe, Vivelina, nasceu em São Sebastião. Décadas depois, em Angola, os pais de Maria tornaram-se nossos vizinhos e “família do coração” em Santa Comba (Waku Kungo).
Recordação em Angola (1975)
Maria Vieira, guardo com carinho os teus pais — o Sr. Júlio e a tia Isabelinha — nossos vizinhos de porta em Santa Comba (Waku Kungo, Angola). A tia Isabelinha passava as tardes a conversar com a minha mãe, enquanto esta costurava do outro lado do balcão, na máquina de costura Oliva. Até 6 de Agosto de 1975, a rotina resistiu: pequenas compras, recados trocados, e a esperança dita em voz baixa — «isto há-de acalmar». Nesse dia, porém, a guerra rebentou e tivemos de abandonar a nossa terra. A mercearia fechou num silêncio estranho; a cadeira da tia Isabelinha ficou vazia, mas cheia de memória. É assim que os guardo: presença serena, bondade discreta, família do coração.
Nota: Esta presença do Sr. Júlio e da tia Isabelinha em Santa Comba é aqui registada como testemunho familiar do autor. (Para documentação formal, ver secção “Como confirmar a migração”.)
Cronologia essencial
11-11-1926 — Nascimento em São Sebastião, Terceira. Vila São Sebastião
04-06-1940 — Agressão quando levava o almoço ao pai. Diocese of Angra
05-06-1940 — Falecimento no Hospital de Santo Espírito; sepultura na Conceição. Vila São Sebastião
2018 — Abertura do processo de beatificação. igrejaacores.pt
2024 — Conclusão da fase diocesana (pronta para Roma). Jornal de Notícias
28-02-2025 — Entrega do processo no Vaticano. igrejaacores.pt
1975 (memória do autor) — Júlio e Isabel viviam em Santa Comba; 6 de Agosto marca o rebentamento da guerra e a nossa partida.
Como confirmar a migração dos pais (Júlio e Isabel) para Angola
Para transformar a memória em prova arquivística, sugere-se:
Passaportes – Angra do Heroísmo (BPARAH). Pedido de pesquisa por Júlio de Sousa da Silva e Isabel Vieira da Silva, intervalo 1960–1975, destino “Santa Comba/Waku Kungo, Angola”. (Há decreto e documentação diocesana de 2018 que demonstra mobilização local para a causa; os mesmos arquivos salvaguardam séries de passaportes.) Diocese of Angra
Museu da Emigração Açoriana. Base de dados e orientação sobre registos de emigração e listas de passageiros com fluxos para África no séc. XX. Facebook
Minuta de e-mail (resumo):«Solicito pesquisa nos Processos de Passaporte do Governo Civil de Angra para Júlio de Sousa da Silva e Isabel Vieira da Silva (São Sebastião), com destino Angola (Santa Comba/Waku Kungo), anos prováveis 1960–1975; agradeço referências, custos e digitalização.»
Notas finais
A história de Maria Vieira uniu Açores e Angola no nosso quotidiano: da Ermida em São Sebastião à cadeira que guardávamos para a tia Isabelinha na mercearia de Santa Comba. Entre factos comprovados e lembranças vividas, permanece o essencial: respeito, gratidão e memória.
Soneto em memória de Maria Vieira
Maria Vieira, flor de São Sebastião,
a ilha guarda o teu silêncio terno;
ergueu-se a Ermida, lume casto e eterno,
a paz gravada em pedra e oração.
Na dor ferida brilhou-te a compaixão;
subiu tua voz, tão mansa, para o eterno,
e o mal curvou-se ao júbilo superno,
dando ao povo claridade e canção.
Em Santa Comba vive esta memória;
teus pais — Júlio e Isabel — na nossa Angola;
a fé da ilha aponta a tua Ermida.
Minha mãe cose a linha da história;
no seis de Agosto a mágoa não consola;
e o teu perdão conduz-nos para a Ermida.
Lugares de memória
No local do martírio ergueu-se a Ermida de Maria Vieira, hoje ponto de romaria da comunidade de São Sebastião. Wikipedia

Fontes (seleção)
Vila de São Sebastião – Perfil de Maria Vieira da Silva. Dados biográficos (nascimento; 1940). Vila São Sebastião
Diocese de Angra – Nota Pastoral. Síntese do acontecimento e palavras atribuídas a Maria. Diocese of Angra
Wikipedia – Ermida de Maria Vieira. Local de memória na Vila de São Sebastião. Wikipedia
Igreja Açores – Conclusão da fase diocesana (2024) e entrega no Vaticano (2025). igrejaacores.pt+1
JN – “Beatificação de jovem de Angra dá mais um passo” (02-11-2024). Cobertura jornalística. Jornal de Notícias