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Maria Vieira: factos documentados e a ponte entre São Sebastião e Santa Comba

ago 29

4 min de leitura

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Maria Vieira, devoção e a memória dos seus pais (1940–1975)

Introdução

Este artigo reúne o que está documentado sobre Maria Vieira da Silva, jovem terceirense da Vila de São Sebastião, e integra a minha lembrança pessoal dos seus pais — Júlio de Sousa da Silva e Isabel Vieira da Silva (tia Isabelinha) — nos derradeiros dias que antecederam 6 de Agosto de 1975, em Santa Comba (Waku Kungo, Angola). A ligação entre as nossas famílias tem ainda outra raiz: a minha mãe, Vivelina, também nasceu em São Sebastião.


Quem foi Maria Vieira

  • Nascimento e filiação. Maria Vieira da Silva nasceu a 11 de novembro de 1926 na Vila de São Sebastião, filha de Júlio de Sousa da Silva e Isabel Vieira da Silva. Vila São Sebastião

  • O acontecimento de 1940. A 4 de junho de 1940, quando levava o almoço ao pai, Maria foi atacada; faleceu no dia seguinte no Hospital de Santo Espírito, sendo sepultada no Cemitério da Conceição (Angra do Heroísmo). As fontes eclesiais registam que, antes de morrer, pronunciou o nome do agressor e perdoou-o. Vila São Sebastião Diocese of Angra



O processo de beatificação

O bispo de Angra autorizou o início do processo em fevereiro de 2018. A fase diocesana foi concluída em 2024 e, em 28 de fevereiro de 2025, o processo foi entregue no Vaticano para a fase romana. igrejaacores.pt+1Jornal de Notícias


A ponte de São Sebastião

Para além da história documentada, existe um elo afetivo: a minha mãe, Vivelina, nasceu em São Sebastião. Décadas depois, em Angola, os pais de Maria tornaram-se nossos vizinhos e “família do coração” em Santa Comba (Waku Kungo).


Recordação em Angola (1975)

Maria Vieira, guardo com carinho os teus pais — o Sr. Júlio e a tia Isabelinha — nossos vizinhos de porta em Santa Comba (Waku Kungo, Angola). A tia Isabelinha passava as tardes a conversar com a minha mãe, enquanto esta costurava do outro lado do balcão, na máquina de costura Oliva. Até 6 de Agosto de 1975, a rotina resistiu: pequenas compras, recados trocados, e a esperança dita em voz baixa — «isto há-de acalmar». Nesse dia, porém, a guerra rebentou e tivemos de abandonar a nossa terra. A mercearia fechou num silêncio estranho; a cadeira da tia Isabelinha ficou vazia, mas cheia de memória. É assim que os guardo: presença serena, bondade discreta, família do coração.
Nota: Esta presença do Sr. Júlio e da tia Isabelinha em Santa Comba é aqui registada como testemunho familiar do autor. (Para documentação formal, ver secção “Como confirmar a migração”.)

Cronologia essencial

  • 11-11-1926 — Nascimento em São Sebastião, Terceira. Vila São Sebastião

  • 04-06-1940 — Agressão quando levava o almoço ao pai. Diocese of Angra

  • 05-06-1940 — Falecimento no Hospital de Santo Espírito; sepultura na Conceição. Vila São Sebastião

  • 2018 — Abertura do processo de beatificação. igrejaacores.pt

  • 2024 — Conclusão da fase diocesana (pronta para Roma). Jornal de Notícias

  • 28-02-2025 — Entrega do processo no Vaticano. igrejaacores.pt

  • 1975 (memória do autor) — Júlio e Isabel viviam em Santa Comba; 6 de Agosto marca o rebentamento da guerra e a nossa partida.


Como confirmar a migração dos pais (Júlio e Isabel) para Angola

Para transformar a memória em prova arquivística, sugere-se:

  1. Passaportes – Angra do Heroísmo (BPARAH). Pedido de pesquisa por Júlio de Sousa da Silva e Isabel Vieira da Silva, intervalo 1960–1975, destino “Santa Comba/Waku Kungo, Angola”. (Há decreto e documentação diocesana de 2018 que demonstra mobilização local para a causa; os mesmos arquivos salvaguardam séries de passaportes.) Diocese of Angra

  2. Museu da Emigração Açoriana. Base de dados e orientação sobre registos de emigração e listas de passageiros com fluxos para África no séc. XX. Facebook

Minuta de e-mail (resumo):«Solicito pesquisa nos Processos de Passaporte do Governo Civil de Angra para Júlio de Sousa da Silva e Isabel Vieira da Silva (São Sebastião), com destino Angola (Santa Comba/Waku Kungo), anos prováveis 1960–1975; agradeço referências, custos e digitalização.»

Notas finais

A história de Maria Vieira uniu Açores e Angola no nosso quotidiano: da Ermida em São Sebastião à cadeira que guardávamos para a tia Isabelinha na mercearia de Santa Comba. Entre factos comprovados e lembranças vividas, permanece o essencial: respeito, gratidão e memória.


Soneto em memória de Maria Vieira


Maria Vieira, flor de São Sebastião,

a ilha guarda o teu silêncio terno;

ergueu-se a Ermida, lume casto e eterno,

a paz gravada em pedra e oração.


Na dor ferida brilhou-te a compaixão;

subiu tua voz, tão mansa, para o eterno,

e o mal curvou-se ao júbilo superno,

dando ao povo claridade e canção.


Em Santa Comba vive esta memória;

teus pais — Júlio e Isabel — na nossa Angola;

a fé da ilha aponta a tua Ermida.


Minha mãe cose a linha da história;

no seis de Agosto a mágoa não consola;

e o teu perdão conduz-nos para a Ermida.



Lugares de memória

No local do martírio ergueu-se a Ermida de Maria Vieira, hoje ponto de romaria da comunidade de São Sebastião. Wikipedia


Ermida de Maria Vieira, São Sebastião (Terceira). Lugar de memória erguido no sítio do martírio (1940)
Ermida de Maria Vieira, São Sebastião (Terceira). Lugar de memória erguido no sítio do martírio (1940)

Fontes (seleção)

  • Vila de São Sebastião – Perfil de Maria Vieira da Silva. Dados biográficos (nascimento; 1940). Vila São Sebastião

  • Diocese de Angra – Nota Pastoral. Síntese do acontecimento e palavras atribuídas a Maria. Diocese of Angra

  • Wikipedia – Ermida de Maria Vieira. Local de memória na Vila de São Sebastião. Wikipedia

  • Igreja Açores – Conclusão da fase diocesana (2024) e entrega no Vaticano (2025). igrejaacores.pt+1

  • JN – “Beatificação de jovem de Angra dá mais um passo” (02-11-2024). Cobertura jornalística. Jornal de Notícias

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