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Antes de Preparar os Quadros, Prepare-se o País: O Ciclo Invertido do Desenvolvimento

há 4 dias

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Subtítulo

Entre Angola e Portugal, uma reflexão sobre o erro histórico de formar talentos sem lhes dar país.


1. Introdução — A verdade que antecede a formação

Há frases que resumem séculos de equívocos.

“Antes mesmo de preparar os quadros, prepara o país para empregar esses quadros.”

Esta sentença encerra uma sabedoria que transcende fronteiras. Aplica-se a Angola, onde gerações inteiras de jovens formados encontram portas fechadas; e a Portugal, que forma brilhantes engenheiros e cientistas apenas para vê-los emigrar.


O cerne da questão é simples e doloroso: as nações que não planeiam o destino dos seus quadros transformam a educação em exportação de talentos.


2. O erro estrutural: formar para o vazio

Durante décadas, tanto Angola como Portugal apostaram, com orgulho, na formação académica. Mas a formação, sem uma economia capaz de absorver o conhecimento, cria frustração em vez de progresso.

Um país pode ter universidades cheias e fábricas vazias — e isso é o prenúncio do subdesenvolvimento.


Em Angola, a expansão do ensino superior não foi acompanhada por uma diversificação real da economia. O petróleo continuou a dominar, e os engenheiros civis, agrónomos ou informáticos formados com esperança viram-se sem projetos concretos.


Em Portugal, a excelência académica gerou milhares de licenciados e doutorados, mas a precariedade laboral e a falta de investimento em I&D empurraram-nos para o estrangeiro.

Formar quadros sem preparar o país é construir uma ponte sem margens.


3. Preparar o país: o que significa, afinal?

Preparar o país é criar as condições estruturais, políticas e culturais para que o conhecimento floresça onde é semeado.

Significa:

  • Planeamento económico: definir sectores prioritários e alinhar a formação com as necessidades nacionais.

  • Industrialização e inovação: garantir que há tecido produtivo capaz de absorver engenheiros, técnicos e investigadores.

  • Reforma da administração pública: para que o mérito e não o favor determine o recrutamento.

  • Política fiscal e de investimento que estimule o empreendedorismo e proteja a produção nacional.

  • Parceria luso-africana inteligente: Portugal pode ser o laboratório de desenvolvimento tecnológico; Angola, o campo de aplicação e crescimento.


A formação de quadros é apenas a última peça de um puzzle que começa na definição de um projeto nacional coerente.


4. O círculo virtuoso: quando o país e os quadros se preparam mutuamente

Os países que alcançaram desenvolvimento sustentável, do Japão à Coreia do Sul, seguiram esta ordem lógica: primeiro construíram um ecossistema de industrialização, depois formaram quadros para sustentá-lo.


O resultado foi um ciclo virtuoso onde a educação alimenta a economia, e a economia reinveste na educação.


Angola e Portugal podem seguir caminho semelhante, mas para isso é necessário romper com o modelo extrativo (em Angola) e com o modelo de emigração forçada (em Portugal).Ambos precisam de transformar a inteligência individual em riqueza coletiva.


5. Conclusão — Formar para ficar

Chegou o tempo de inverter o paradigma:

não basta ensinar, é preciso preparar o país para empregar os ensinados.


O diploma só tem valor quando encontra propósito dentro das fronteiras. As universidades não podem ser fábricas de sonhos para exportação, mas laboratórios de soberania nacional.


A maior traição de um governo não é não educar o seu povo — é educá-lo para depois o abandonar.


Angola e Portugal têm a oportunidade histórica de alinhar a formação de quadros com um projeto de nação.

E, se o fizerem juntos, poderão provar ao mundo lusófono que a inteligência, quando enraizada, é a maior forma de independência.


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