Explorando a Rica Cultura de Angola e Portugal

Palanca Negra - A Guardiã das Montanhas
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No coração de Angola, onde as colinas ondulantes de Kungo, Waku e Ngoya se encontram com a vasta selva do Mato, reinava suprema a Palanca Gigante. Esta majestosa antílope, de pelagem negra e branca como a noite e o amanhecer, era mais que uma criatura de beleza; era um espírito entrelaçado à terra. Para o povo, simbolizava resiliência, liberdade indomada, e a eterna vigilância sobre a sua pátria.
Uma Palanca, esguia e poderosa, movia-se com uma graça silenciosa pelo seu território, a sua pelagem negra reluzente à luz da manhã. Seus chifres curvados espiralavam em direção ao céu, como uma coroa dada pelas montanhas que a observavam a cada passo. Com cada passada, seus cascos mal tocavam o chão macio, como se a própria terra abrisse caminho para ela.
A Palanca já tinha visto muito—auroras nascendo sobre Kungo, neblinas subindo do vale abaixo, e os ventos de Waku trazendo sussurros de ancestrais há muito passados. Ngoya, o sentinela orgulhoso, erguia-se no horizonte, sempre presente, sempre vigilante. Essas montanhas existiam há milênios, e como elas, ela também permaneceria.
Mas ela não era apenas uma errante. Era uma protetora. A selva, densa e repleta de vida, dependia de sua vigilância silenciosa. Sua presença lembrava a cada criatura que aquele solo era sagrado, um santuário onde as antigas histórias viviam, contadas pelas árvores sussurrantes e pelos riachos murmurantes. Seus sentidos eram aguçados, atentos a cada mudança, cada movimento sutil na vegetação.
Quando o crepúsculo desceu, lançando um brilho dourado sobre as cristas de Ngoya, a Palanca ficou no topo de uma colina, seu olhar varrendo a vasta selva abaixo. Copas verdes, riachos cintilantes e clareiras repletas da vida da selva estendiam-se diante dela. Aquela era sua pátria, seu santuário, tal como fora para incontáveis gerações de sua espécie.
Ao longe, os ecos suaves do riso de crianças chegaram aos seus ouvidos, vindos de uma aldeia aninhada entre as montanhas. O povo valorizava a sua presença, assim como sempre valorizara as histórias da Palanca ao longo dos séculos. Ela não era apenas um símbolo; era uma ligação viva com o espírito da terra.
Contudo, naquela noite, algo parecia errado. Uma inquietação silenciosa pairava sobre a selva. A Palanca voltou sua cabeça em direção à montanha Waku, onde uma neblina rasteira e densa começava a descer pelas encostas como um aviso. Seus instintos afiados disseram-lhe que a selva estava em alerta. Ela já havia visto esses sinais antes.
Caçadores haviam chegado.
Seus músculos se retesaram, e com uma determinação silenciosa, desceu a colina, movendo-se rapidamente pela vegetação densa. A selva abria-se para ela, reconhecendo o propósito de sua guardiã. Ela deslizava com leveza, seus cascos mal roçando o solo, sua presença como uma sombra na noite.
Às margens de um riacho banhado pelo luar, ela parou, os ouvidos atentos. O som de passos pesados e deliberados ecoava na quietude—estranhos, intrusos. Um grupo de homens se aproximava, suas silhuetas altas e escuras contra as árvores, armas prontas. Eles tinham vindo por ela.
Mas eles não sabiam o que enfrentavam.
A selva agitou-se à sua volta, como se estivesse preparando-se para a batalha. O alarme dos macacos soou nas copas, e os pássaros dispersaram-se no céu noturno com gritos frenéticos. Até o vento parecia prender a respiração. A Palanca permaneceu imóvel, os olhos fixos nos caçadores que se aproximavam.
Eles pensavam que estavam caçando um animal, mas haviam entrado num lugar que não cederia à sua ganância. O ar tornou-se pesado, a selva agora em silêncio, à espera. Os homens hesitaram à beira de uma clareira, sentindo a tensão, mas sem compreendê-la totalmente.
Então, das sombras, ela emergiu.
Sua silhueta, alta e majestosa contra o céu iluminado pela lua, dominava o espaço. Seus chifres brilhavam como lâminas de um guerreiro antigo, sua presença muito além de uma mera criatura. Ela era a personificação do espírito de Angola, a guardiã da terra que não poderia ser conquistada.
Os caçadores congelaram. Suas mãos tremiam nas armas. Tinham ouvido histórias da Palanca Gigante, contos passados de geração em geração, mas agora estavam diante dela, e o peso dessas histórias pesava sobre eles. O próprio tempo parecia parar.
A Palanca não precisou atacar. Sua presença sozinha era suficiente. A selva à sua volta escureceu, suas sombras fechando-se ao redor. Ela os fitou com olhos que continham a sabedoria e o poder de eras. Os homens, sentindo a força de algo muito maior do que eles, voltaram para trás. Haviam vindo em busca de um troféu, mas encontraram uma força que não podiam compreender.
Quando o amanhecer rompeu sobre as montanhas, lançando luz dourada sobre o vale, a Palanca estava novamente no topo de sua colina. Abaixo dela, a selva havia retomado seu ritmo pacífico, a ameaça há muito passada. Ela respirou o ar fresco da manhã, sabendo que seu dever estava longe de ser cumprido.
Enquanto a Palanca vagasse, a terra permaneceria indomada, intocada pela ganância dos homens. Ela continuaria a caminhar pelos vales de Kungo, Waku e Ngoya, silenciosa e vigilante, protegendo a alma de Angola, como fizera por séculos.
Guardiã das Montanhas
Nos montes altos de Kungo e Waku,
A Palanca passeia em passo altivo,
Na selva verde onde o vento é vivo,
Caminha firme, sem jamais recuo.
Os ventos trazem vozes do passado,
Dos dias de harmonia e de paz,
Quando homem e terra, juntos, em traz,
Guardavam o santuário respeitado.
Mas eis que sombras de homens se erguem,
A selva desperta em tom de alerta,
Este solo é mais que um sonho vão.
A Palanca surge, seus olhos seguem,
Os caçadores fogem, alma incerta,
Diante do espírito em proteção.










