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Sob o sol ardente de Angola, uma família caminha unida entre as cubatas ancestrais, símbolo de resiliência e de despertar. A imagem reflete o meu espírito (João Elmiro da Rocha Chaves, “Mákalé”), cuja obra une memória, verdade e esperança. «Enquanto o Povo Dorme, a Miséria Continua Acordada» ergue-se como um manifesto poético e um apelo à consciência, por uma nação que ainda procura a sua dignidade sob o mesmo sol eterno.
Sob o sol ardente de Angola, uma família caminha unida entre as cubatas ancestrais, símbolo de resiliência e de despertar. A imagem reflete o meu espírito (João Elmiro da Rocha Chaves, “Mákalé”), cuja obra une memória, verdade e esperança. «Enquanto o Povo Dorme, a Miséria Continua Acordada» ergue-se como um manifesto poético e um apelo à consciência, por uma nação que ainda procura a sua dignidade sob o mesmo sol eterno.

Enquanto o povo dorme, a miséria continua acordada, por isso, despertemos antes que o silêncio se torne herança.


Não se herda uma pátria, constrói-se uma cada dia, com a coragem de quem acorda e diz: hoje, ainda acredito.



🌍 Prefácio do Autor

Todas as manhãs desperto a meio de um sonho.

Estou em casa, em Angola.

Vejo ruas alegres, crianças de mochila e pão, vizinhos que se cumprimentam com esperança.

Vejo a dignidade a crescer como mandioca na chuva.


Mas acordo, e o sonho evapora.

A realidade pesa como ferro quente.

E o que sinto não é apenas saudade: é dever.

Dever de falar, de ensinar, de reconstruir.


Sonhar com uma Angola justa não é nostalgia, é resistência.

Porque o sonho é o primeiro ato de liberdade.

E um povo que sonha, mesmo com fome, ainda está vivo.


Este manifesto é isso: uma semente de lucidez.

Não é contra ninguém; é a favor da verdade.

Não aponta o dedo, ergue o espelho.

E diz: basta de dormir com os olhos abertos.


🩸 I. Herança e Engano

Herdámos uma terra fértil e cansada.

O chão que alimenta também chora.

A independência trouxe a bandeira, mas não a justiça.

O colono partiu, e a cobiça ficou vestida de fato novo.


O petróleo corre como sangue quente, e o diamante cintila em mãos que não conhecem o suor.

Luanda brilha em torres de vidro, mas o musseque ainda se cobre de lama.

De um lado, o luxo que finge progresso; do outro, a paciência que mata devagar.


Há meio século que a história se repete como ladainha.

Chamam-lhe governação, mas é comércio de consciências.

E enquanto o povo espera, a miséria não dorme, trabalha, cresce, reproduz-se.

Não é maldição divina, é negligência humana.


A liberdade sem moral é rio sem nascente.

E um povo que troca a verdade por silêncio assina a sua própria servidão.

Porque a mentira já não fala em português antigo, fala na língua do poder moderno.

E o engano, quando institucionalizado, vira cultura.


“Quem se habitua à mentira, esquece o sabor da verdade.”


⚖️ II. Verdade em Vez de Retórica

O poder fala, o povo diz.

E há uma distância abissal entre o falar que engana e o dizer que liberta.


Durante anos venderam-nos promessas embrulhadas em discursos.

Chamaram a fome de crise, o desemprego de transição, a desigualdade de crescimento.

Mas a verdade, deixada ao sol, começou a cheirar mal.

E quem tenta abri-la é logo chamado de traidor.


A pátria não teme a verdade, só os impostores a temem.

A pátria quer ser olhada nos olhos, com respeito e coragem.


Há palavras gastas, vazias, ocas: diversificação, inclusão, prosperidade.

São moedas de discurso que já não compram confiança.

No musseque, o verbo comer ainda espera conjugação.

Nas escolas, o verbo aprender ficou sem giz e sem teto.


“Chega de retórica: a verdade não precisa de aplausos, precisa de eco.”


Pensar deixou de ser luxo, e tornou-se dever.

A verdade é luz, e a luz é a única arma que a escuridão teme.

E quando a consciência desperta, a miséria começa a perder o sono.


🌱 III. O Que Fazer - Com o que Há

Ninguém constrói o amanhã com o que gostaria de ter, constrói-se com o que há.


A reconstrução não virá de ministérios; virá de mentes desperta e mãos unidas.


1️⃣ Educar para Libertar

Educar é libertar do medo.

Uma rádio local pode ser uma escola.

Um telemóvel pode ser biblioteca.

Uma conversa sob o mulemba pode ser universidade.


O saber é o único recurso que aumenta quando é partilhado.


2️⃣ Construir Pontes de Conhecimento

A diáspora é extensão da pátria.

Cada angolano no exterior é uma antena de sabedoria.

Criemos círculos de mentoria, cinco jovens guiados por um irmão do mundo.

Não é caridade, é reconexão.


A mente que ensina de longe, sem se exibir, planta o futuro em silêncio.


3️⃣ Desmascarar com Provas

Gritar alimenta o ódio; provar destrói a mentira.

Façamos da verdade uma ferramenta, não uma arma.

Mostremos números, dados, mapas.

Que cada cidadão aprenda a investigar, comparar, exigir.


A mentira teme o gráfico, porque ele não se comove.


4️⃣ Celebrar os Pequenos Heróis

Os heróis de Angola não usam farda nem têm escolta.

São os que fazem o bem sem que ninguém veja:

  • A enfermeira que ensina depois do turno;

  • O camponês que reinventa o motor velho;

  • O jovem que liga aldeias por rede móvel;

  • A mulher que transforma a partilha em pão.


Esses são os pilares invisíveis do futuro.


5️⃣ Reerguer a Dignidade pelo Trabalho

Trabalhar é rezar com as mãos.

Mas o trabalho só dignifica quando há justiça.

Criemos cooperativas, hortas, oficinas, projetos locais.

Não esperemos salvação do Estado, sejamos o Estado em movimento.


Com pouco se faz muito, quando o muito se faz junto


🕯️ IV. Mensagem ao Povo

Povo meu, povo de sol, e de riso, de luta e de fé,

escuta-me como quem se recorda de si próprio.


Há em ti uma força mais antiga que o medo.

Não digas “eles deviam”, diz “eu começo.”

Não esperes ordens, começa o gesto.

O poder real não está nas urnas, está na consciência desperta.


“Quem mente ao povo destrói o chão onde pisa.”


O tempo dos salvadores acabou; começa o tempo dos construtores.

Ergue-te com o que tens fé, mãos, coragem.

O herói dos novos tempos é coletivo, anónimo e teimoso.


Angola, minha terra vermelha e ferida,

tu que foste menina de lágrimas e agora és mulher de coragem,

os teus filhos estão por toda a parte

não te esqueceram, foram buscar ferramentas para te reconstruir.


“Prometo pensar antes de crer.

Prometo agir antes de reclamar.

Prometo ensinar o que sei e respeitar o que sou.”


Este é o novo hino da pátria desperta.

Sem ódio. Sem medo. Sem cansaço.

Apenas o desejo profundo de viver em verdade.


🌅 Epílogo; Juramento e Alvorada


Nasce a alvorada em campo semeado,

de dor antiga e sangue sem vingança;

no peito o sonho é chama e é esperança,

no chão da pátria o amor ressuscitado.


A alma levanta o povo adormecido,

que o sol aquece e a fome já não doma;

não há senhor do pão, nem mais o aroma

do medo antigo em rosto dividido.


E juro, Angola, em fé que não se apaga:

servir-te em verbo, em gesto e em memória,

sem me curvar ao ouro nem à intriga.


Que o povo seja a seiva desta saga,

e a liberdade, eterna, a tua glória,

jurada em dor, colhida em paz antiga.


✍️ Assinatura do Autor

Sou João Elmiro da Rocha Chaves - “Mákalé”.

Engenheiro, sobrevivente da Guerra Fria e guardião da memória luso-angolana.


Construo memória para as máquinas e guardo a memória de um povo.

Do planalto da Cela ao vale do Keve, da diáspora à pátria, levo comigo as vozes que o tempo tentou calar.

A minha palavra é ponte, entre o que fomos e o que ainda podemos ser.


“A verdade não precisa de ruído, basta-lhe um coração que a diga.”


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