Explorando a Rica Cultura de Angola e Portugal

Enquanto o Povo Dorme, a Miséria Continua Acordada
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Enquanto o povo dorme, a miséria continua acordada, por isso, despertemos antes que o silêncio se torne herança.
Não se herda uma pátria, constrói-se uma cada dia, com a coragem de quem acorda e diz: hoje, ainda acredito.
🌍 Prefácio do Autor
Todas as manhãs desperto a meio de um sonho.
Estou em casa, em Angola.
Vejo ruas alegres, crianças de mochila e pão, vizinhos que se cumprimentam com esperança.
Vejo a dignidade a crescer como mandioca na chuva.
Mas acordo, e o sonho evapora.
A realidade pesa como ferro quente.
E o que sinto não é apenas saudade: é dever.
Dever de falar, de ensinar, de reconstruir.
Sonhar com uma Angola justa não é nostalgia, é resistência.
Porque o sonho é o primeiro ato de liberdade.
E um povo que sonha, mesmo com fome, ainda está vivo.
Este manifesto é isso: uma semente de lucidez.
Não é contra ninguém; é a favor da verdade.
Não aponta o dedo, ergue o espelho.
E diz: basta de dormir com os olhos abertos.
🩸 I. Herança e Engano
Herdámos uma terra fértil e cansada.
O chão que alimenta também chora.
A independência trouxe a bandeira, mas não a justiça.
O colono partiu, e a cobiça ficou vestida de fato novo.
O petróleo corre como sangue quente, e o diamante cintila em mãos que não conhecem o suor.
Luanda brilha em torres de vidro, mas o musseque ainda se cobre de lama.
De um lado, o luxo que finge progresso; do outro, a paciência que mata devagar.
Há meio século que a história se repete como ladainha.
Chamam-lhe governação, mas é comércio de consciências.
E enquanto o povo espera, a miséria não dorme, trabalha, cresce, reproduz-se.
Não é maldição divina, é negligência humana.
A liberdade sem moral é rio sem nascente.
E um povo que troca a verdade por silêncio assina a sua própria servidão.
Porque a mentira já não fala em português antigo, fala na língua do poder moderno.
E o engano, quando institucionalizado, vira cultura.
“Quem se habitua à mentira, esquece o sabor da verdade.”
⚖️ II. Verdade em Vez de Retórica
O poder fala, o povo diz.
E há uma distância abissal entre o falar que engana e o dizer que liberta.
Durante anos venderam-nos promessas embrulhadas em discursos.
Chamaram a fome de crise, o desemprego de transição, a desigualdade de crescimento.
Mas a verdade, deixada ao sol, começou a cheirar mal.
E quem tenta abri-la é logo chamado de traidor.
A pátria não teme a verdade, só os impostores a temem.
A pátria quer ser olhada nos olhos, com respeito e coragem.
Há palavras gastas, vazias, ocas: diversificação, inclusão, prosperidade.
São moedas de discurso que já não compram confiança.
No musseque, o verbo comer ainda espera conjugação.
Nas escolas, o verbo aprender ficou sem giz e sem teto.
“Chega de retórica: a verdade não precisa de aplausos, precisa de eco.”
Pensar deixou de ser luxo, e tornou-se dever.
A verdade é luz, e a luz é a única arma que a escuridão teme.
E quando a consciência desperta, a miséria começa a perder o sono.
🌱 III. O Que Fazer - Com o que Há
Ninguém constrói o amanhã com o que gostaria de ter, constrói-se com o que há.
A reconstrução não virá de ministérios; virá de mentes desperta e mãos unidas.
1️⃣ Educar para Libertar
Educar é libertar do medo.
Uma rádio local pode ser uma escola.
Um telemóvel pode ser biblioteca.
Uma conversa sob o mulemba pode ser universidade.
O saber é o único recurso que aumenta quando é partilhado.
2️⃣ Construir Pontes de Conhecimento
A diáspora é extensão da pátria.
Cada angolano no exterior é uma antena de sabedoria.
Criemos círculos de mentoria, cinco jovens guiados por um irmão do mundo.
Não é caridade, é reconexão.
A mente que ensina de longe, sem se exibir, planta o futuro em silêncio.
3️⃣ Desmascarar com Provas
Gritar alimenta o ódio; provar destrói a mentira.
Façamos da verdade uma ferramenta, não uma arma.
Mostremos números, dados, mapas.
Que cada cidadão aprenda a investigar, comparar, exigir.
A mentira teme o gráfico, porque ele não se comove.
4️⃣ Celebrar os Pequenos Heróis
Os heróis de Angola não usam farda nem têm escolta.
São os que fazem o bem sem que ninguém veja:
A enfermeira que ensina depois do turno;
O camponês que reinventa o motor velho;
O jovem que liga aldeias por rede móvel;
A mulher que transforma a partilha em pão.
Esses são os pilares invisíveis do futuro.
5️⃣ Reerguer a Dignidade pelo Trabalho
Trabalhar é rezar com as mãos.
Mas o trabalho só dignifica quando há justiça.
Criemos cooperativas, hortas, oficinas, projetos locais.
Não esperemos salvação do Estado, sejamos o Estado em movimento.
Com pouco se faz muito, quando o muito se faz junto
🕯️ IV. Mensagem ao Povo
Povo meu, povo de sol, e de riso, de luta e de fé,
escuta-me como quem se recorda de si próprio.
Há em ti uma força mais antiga que o medo.
Não digas “eles deviam”, diz “eu começo.”
Não esperes ordens, começa o gesto.
O poder real não está nas urnas, está na consciência desperta.
“Quem mente ao povo destrói o chão onde pisa.”
O tempo dos salvadores acabou; começa o tempo dos construtores.
Ergue-te com o que tens fé, mãos, coragem.
O herói dos novos tempos é coletivo, anónimo e teimoso.
Angola, minha terra vermelha e ferida,
tu que foste menina de lágrimas e agora és mulher de coragem,
os teus filhos estão por toda a parte
não te esqueceram, foram buscar ferramentas para te reconstruir.
“Prometo pensar antes de crer.
Prometo agir antes de reclamar.
Prometo ensinar o que sei e respeitar o que sou.”
Este é o novo hino da pátria desperta.
Sem ódio. Sem medo. Sem cansaço.
Apenas o desejo profundo de viver em verdade.
🌅 Epílogo; Juramento e Alvorada
Nasce a alvorada em campo semeado,
de dor antiga e sangue sem vingança;
no peito o sonho é chama e é esperança,
no chão da pátria o amor ressuscitado.
A alma levanta o povo adormecido,
que o sol aquece e a fome já não doma;
não há senhor do pão, nem mais o aroma
do medo antigo em rosto dividido.
E juro, Angola, em fé que não se apaga:
servir-te em verbo, em gesto e em memória,
sem me curvar ao ouro nem à intriga.
Que o povo seja a seiva desta saga,
e a liberdade, eterna, a tua glória,
jurada em dor, colhida em paz antiga.
✍️ Assinatura do Autor
Sou João Elmiro da Rocha Chaves - “Mákalé”.
Engenheiro, sobrevivente da Guerra Fria e guardião da memória luso-angolana.
Construo memória para as máquinas e guardo a memória de um povo.
Do planalto da Cela ao vale do Keve, da diáspora à pátria, levo comigo as vozes que o tempo tentou calar.
A minha palavra é ponte, entre o que fomos e o que ainda podemos ser.
“A verdade não precisa de ruído, basta-lhe um coração que a diga.”






