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Um Legado de Progresso e Pertença: A História dos Portugueses em Angola

2 de nov de 2024

4 min de leitura

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Por João Elmiro da Rocha Chaves


Durante quase cinco séculos, a presença portuguesa em Angola teceu uma tapeçaria rica e complexa de interações culturais, desenvolvimento socioeconômico e laços profundos que muitos portugueses desenvolveram com esta terra vibrante. Contrariamente à narrativa comum do imperialismo e dominação, a história dos portugueses em Angola é frequentemente contada através das lentes de quem viu em Angola o seu lar, contribuindo para o progresso do país com dedicação e respeito mútuo.


Desenvolvimento e Modernização

Desde o século XVI, Angola viu a chegada de exploradores, missionários e comerciantes portugueses que estabeleceram as primeiras trocas culturais e comerciais com os reinos locais, como o Reino do Ndongo e o Reino do Kongo. As primeiras relações comerciais foram baseadas em produtos como o marfim, cera e escravos. Com o tempo, essa relação evoluiu para uma presença mais permanente, marcada por uma série de desenvolvimentos infraestruturais significativos.


No século XX, particularmente nas últimas décadas antes da independência em 1975, Angola experimentou um boom de desenvolvimento. Houve um foco na construção de estradas que conectavam diversas regiões, como a Estrada Nacional 120, hospitais que promoviam a saúde pública, e escolas que ofereciam educação a um número crescente de angolanos. A construção de infraestrutura como o Porto de Luanda e ferrovias, como o Caminho de Ferro de Benguela, foi fundamental para a expansão econômica e modernização de Angola, facilitando o transporte de mercadorias e contribuindo para o desenvolvimento do comércio e da indústria.


Esses esforços foram muitas vezes liderados por portugueses que consideravam Angola sua casa, dedicados a elevar o padrão de vida local. Muitos destes colonos trabalhavam como agrônomos, engenheiros e profissionais da saúde, colaborando na criação de programas para desenvolver a agricultura, como as fazendas de café no Cuanza Sul, e no desenvolvimento de novas técnicas de produção. Eram comuns as iniciativas que visavam integrar as comunidades indígenas no tecido social e econômico do país, com programas de alfabetização e saúde em áreas rurais.


Cultura e Identidade

Além do desenvolvimento físico, os portugueses em Angola desempenharam um papel crucial na formação da identidade cultural do país. Através da língua portuguesa, que se tornou o idioma oficial e um fator de unificação, da religião católica, que influenciou a criação de escolas missionárias, e dos costumes trazidos de Portugal, houve uma fusão cultural que enriqueceu tanto a sociedade angolana quanto a portuguesa. A culinária angolana, por exemplo, é uma mistura única de ingredientes africanos e influências lusas, com pratos como o "calulu" e a "muamba de galinha", que refletem essa sinergia de sabores.


A música e as artes angolanas também foram profundamente marcadas pela presença portuguesa. Gêneros como o semba surgiram como resultado da mistura dos ritmos tradicionais africanos com influências da música popular portuguesa, criando uma expressão cultural que simboliza a história compartilhada entre os dois povos. As festas religiosas, como a celebração de Nossa Senhora da Assunção, continuaram a ser realizadas em muitas comunidades, demonstrando a continuidade e adaptação das tradições trazidas pelos portugueses.


Legado e Memória

O legado português em Angola é, portanto, um que fala de contribuição e pertença, e não apenas de ocupação. Muitos portugueses que viveram em Angola até a independência, e mesmo aqueles que partiram, mantêm uma ligação emocional profunda com o país. Em relatos de ex-residentes de cidades como Luanda, Benguela e Huambo, é comum ouvir memórias afetuosas sobre a vida em comunidade, as amizades com angolanos de diferentes etnias e a participação conjunta em atividades sociais e econômicas.


Esta conexão é um testemunho das raízes que cresceram profundamente entre as pedras da história colonial, sugerindo uma narrativa mais matizada do que a simples dicotomia colonizador-colonizado. A influência da educação, por exemplo, promovida por escolas como a Escola Comercial e Industrial de Luanda, criou uma geração de angolanos que assumiu papéis de liderança logo após a independência. Esta é uma demonstração concreta de como as contribuições estruturais deixadas pelos portugueses ajudaram a moldar o futuro da nação.


Esta história é vital para entender a dinâmica atual entre Portugal e Angola, e para reconhecer que a história de um país é muitas vezes mais complexa do que as versões simplificadas que podem prevalecer. As relações econômicas atuais, como as parcerias no setor de petróleo e construção, refletem a continuação desse vínculo histórico, mostrando que os laços estabelecidos no passado continuam a influenciar os dois países.


Reflexão e Cooperação Futuras

A complexidade das relações luso-angolanas exige uma reflexão que vá além das convenções e dos juízos de valor que muitas vezes dominam o discurso sobre a história colonial. É essencial reconhecer as experiências vividas por aqueles que construíram suas vidas e famílias em Angola ao longo dos séculos, vendo a terra não como um mero território a ser explorado, mas como um lar a ser cuidado e valorizado.


Reavaliar a história com uma perspetiva que respeite as diversas narrativas pode não apenas curar antigas feridas, mas também abrir caminho para uma cooperação futura baseada no respeito mútuo e no reconhecimento das contribuições de todos os povos à história angolana. Hoje, iniciativas culturais, como exposições artísticas conjuntas e programas de intercâmbio acadêmico entre Angola e Portugal, têm mostrado como é possível construir um futuro compartilhado que honre a história comum.


Assim, ao olharmos para trás, fazemos isso não para perpetuar a divisão, mas para entender melhor as raízes de nossa interconexão e fortalecer os laços que nos unem no presente. O crescimento de parcerias comerciais e diplomáticas, como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), demonstra um compromisso renovado em fomentar relações baseadas na igualdade e no benefício mútuo.

Esta visão, embora possa divergir das interpretações tradicionais de eventos históricos, oferece uma oportunidade para celebrar a riqueza da história angolana, uma história não apenas de conquista e separação, mas também de encontro e colaboração. Com essa compreensão, podemos avançar, respeitando tanto as diferenças quanto as semelhanças que definem a relação entre Portugal e Angola.


FIM



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